05/12/07

O POEMA ORIGINAL

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Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

José Carlos Ary dos Santos [1937-1984]


Imagem - Fotografia. Passeio. Calcário e basalto. TINTA AZUL.Lisboa.11.10.07

5 comentários:

  1. Sim, os poetas são originais em toda a sua sensibilidade e essência

    lembrei-me (não sei porque) de Florbela Espanca qdo diz:
    a alma dos poetas
    não as entende ninguém,
    são almas de
    violetas, que são poetas também.

    abraços, adorei esse poema e não conhecia esse nobre poeta.

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  2. Reconheci-o na primeira estrofe...
    É mesmo dele.
    Ainda bem que o recordaste.
    Bj

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  3. Nossa, como é bonito o seu blog!!!
    virei mais vezes! bjos!

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  4. Belo, o poema... e encantadora, a foto da calçada, das pedras brancas e azuis, parecendo um mosaico, um tapete... Bom pousar por aqui. Abraços alados!

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  5. EM MIM MESMO

    com a poesia que se cria
    florida como uma pradaria
    em mim mesmo
    procuro desvendar a esmo
    o segredo de encontrar o que não há
    já que não encontro e não vejo a
    saudade
    procuro a igualdade
    e a felicidade
    em mim mesmo
    e também temo
    estar num barco a remo
    e penso o que serei
    se faço o que não sei
    imaginando o que nunca imaginei
    em mim mesmo
    não busco o superficial
    profundamente banal
    mas o que é fundamental
    e sentimental
    e paro
    e preparo
    e também amparo
    a poesia
    quente e fria
    como uma pradaria
    em mim mesmo

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