07/12/08

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS

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O Poema Original

Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

José Carlos Ary dos Santos [1937-1984]


Porque Ary dos Santos fazia hoje anos.
Porque gosto especialmente deste poema.
[que já deixei aqui, há um ano atrás]



Um Homem na Cidade
Letra - José Carlos Ary dos Santos
Música - José Luís Tinoco
canta Carlos do Carmo



Fotografia - TINTA AZUL. 9.08.07

12 comentários:

  1. no me extraña que te guste,
    yo no lo conocia y a mi tambien me gusto
    saluditos

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  2. Os poemas que conhecia são os dos fados, que o fizeram tão popular. Sei que tem uma obra extensa: aconselha-me um livro com obra dele.
    Agradecido de antemão.
    Carlos do Carmo o fadista que melhor recita poesia.

    :)))

    Um forte abraço

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  3. Duarte
    Aqui está:

    José Carlos Ary dos Santos
    Obra Poética
    Edições Avante, 1994


    :)

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  4. E viva o poeta!
    Gosto muito de Ary dos Santos e Carlos do Carmo então nem se fala, voz única repleta de talento.

    "A cidade é um chão de palavras pisadas
    a palavra criança a palavra segredo.
    A cidade é um céu de palavras paradas
    a palavra distância e a palavra medo.

    A cidade é um saco um pulmão que respira
    pela palavra água pela palavra brisa
    A cidade é um poro um corpo que transpira
    pela palavra sangue pela palavra ira.

    A cidade tem praças de palavras abertas
    como estátuas mandadas apear.
    A cidade tem ruas de palavras desertas
    como jardins mandados arrancar.

    A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
    A palavra silêncio é uma rosa chá.
    Não há céu de palavras que a cidade não cubra
    não há rua de sons que a palavra não corra
    à procura da sombra de uma luz que não há."

    Jinhos :)

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  5. Tinta Azul
    Tu a comemorares a data do nascimento de Ary dos Santos e eu a chorar a morte de Alçada Baptista. Abalou-me...

    beijinho de 'até quando?'

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  6. Gracinha,
    Que tal 3ª ou 4ª feira?
    Amanhã ligo-te.
    Bjs

    Também lamento a morte de Alçada Baptista, ficarão "os nós e os laços", num post que há-de vir.
    :)

    Beijinhos

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  7. E ... nós quando apertamos os laços pela cidade tentando apanhar apenas as rosas chá?


    vadia

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  8. Vadia,
    Ligue à Graça e podem combinar 3ª ou 4ª feira, à hora que vos convier. Podíamos almoçar. Que tal?

    :)

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  9. CATASSOL
    by Ramiro Conceição

    O poeta fora prometido ao Deus da Vida;
    porém, sem saber, engravidou de poesias
    por ação do espírito humano.
    E o Deus da Vida, seu marido prometido,
    que era justo, não o denunciou
    porque sabia que o artista trazia frutos
    ao seu passado-presente-futuro.

    O poeta concebeu em sua língua
    para ensinar — em muitas línguas —
    sua linguagem estética, política
    e ética.
    E a lira não se quebrou.
    E um catassol cantou:

    “Sou um ruminante cérebro mutante,
    um ser que considera o ser maior que o ter,
    um lento catassol — sobre a leitura —
    que sabe que ler é conceber com ternura.

    Sou uma repetição, uma aliteração,
    uma especiaria para condimentar iguarias,
    uma hortaliça que plantei em nossa horta.
    Sou homenagem póstuma a estrelas mortas!

    Perdi a hora de tudo.
    Meu relógio marcou todos os fusos.
    Sou a maçaroca no fuso do mundo.

    Cada vez mais,
    torna-se claro
    que sou feito
    d`outra história;
    não desta,
    mentirosa
    e sem memória.

    Cada vez mais,
    tenho a certeza
    de que pertenço
    ao mar bravio
    pois sou um peixe
    que não pertence
    a este aquário vil.”

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  10. Ora e se eu me metesse na conversa? Também gosto de poetas e escritores rsrsrs
    :)))

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  11. mdsol,

    e porque não metes?

    :))))

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  12. Tudo em harmonia: foto, poema, canção. E assim se reconstroi a cidade, originalmente!
    Beijo

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