21/12/08

UM PRESÉPIO. UM POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA[1]

.













natal, e não dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira
in Cancioneiro de Natal
Edições Rolim,1986


Fotografia - TINTA AZUL.Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08

2 comentários:

  1. Tinta Azul,

    dediciada estou com este e os post infra, quanta imaginação e bom gosto! e este poema é soberbo! também gosto muito da escrita de «D.M.Ferreira», deixo-lhe um poema dele lá do meu outro cantinho...
    http://olhares.aeiou.pt/feliz_natal_2008/foto2420759.html

    votos de FELIZ NATAL! para si e família

    deixo um afectuoso abraço e o meu sorriso :)
    mariam


    ah! a filhota é contralto :)

    ResponderEliminar
  2. TEMPO DOS SERES
    by Ramiro Conceição

    Além das flores, quem és?
    Sou as cores.
    Além das cores, quem foste?
    Fui amores.
    Além de amores, quem serás?
    Serei o que deste e dás.

    Além das flores, quem eras?
    Era as cores.
    Além das cores, quem foras?
    Fora amores.
    Além de amores, quem serias?
    Seria o que deras e davas.

    Além das flores, quem sejas?
    Seja as cores.
    Além das cores, quem fosses?
    Fosse amores.
    Além de amores, quem fores?
    For aquilo que desses e dês.

    Além das flores — sê.
    Além das cores: seres
    sendo, sido, além dos pecados idos.

    ResponderEliminar