Acabaram. As férias. Os dias mornos em casa. Intercalados. Entre o sofá, corpo estendido, e trabalhos domésticos numa lida vagarosa, ao sabor dum tempo que não tem pressa e porque o corpo também se ressente. Dias sem hora de deitar nem de levantar. Mais dias. Noutro lugar. Calorosos. Num Rio de Janeiro, Inverno Agosto quente. Laços estreitados. Outros ares. Outro Inverno. Agosto na Praça de Maio. Buenos Aires de frio moderado. A dança aquece os corpos. A paixão do tango. Uma dança de estações que se trocam e voltam ao seu devido lugar. Verão. Inverno. Verão. Norte. Sul. Norte. E no entanto parece que quase nada muda. Mas alguma coisa muda. Porque algo mais se acrescenta, se mistura em nós. E transforma. Um tudo nada. Amanhã é dia de regresso. Ao trabalho. Os dias a minguar. O Outono. O Natal. Mais um ano. Novo? Outro. Sim. E nós deveríamos saber viver cada dia. Mas não. Vivemos à espera dos dias que desejamos. De outro Verão. Se o sabemos, porque não agarramos o Outono para chegar à Primavera com o Inverno atravessado de olhos abertos? Talvez assim o Verão que se segue seja ainda melhor, apesar da inevitabilidade de dias invernosos que se atravessam sem escolher dia nem estação.
Imagem - Fotografia com sopreposição de texto. Restaurante Scenarium. RJ. TINTA AZUL. 15.08.08