21/08/06

LIBERA ME

Libera me

Livrai-me, Senhor,
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.


Carlos Queiroz (1907-1949)

20/08/06

O Mar

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Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes
ó mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!

António Ramos Rosa
Porque hoje fui ver o meu mar e me lembrei deste Mar

18/08/06

Eduardo Mazo - Um Poeta das Ramblas

“Eduardo Mazo dio carácter a Las Ramblas de Barcelona por el procedimiento de convertirse en poeta en la calle, no simple rapsoda, sino constructor de versos que este argentino errante utilizaba para comunicarse y para sobrevivir, como si aún fuera posible el mester de juglaría. Estamos ante el último anarquista errante del siglo XX o ante el primer anarquista errante del siglo, XXI, lo cierto es que el poeta recurre ahora a un complejo género arriesgado porque se basa en la brevería. Género arriesgado ( porque con muy pocas palabras el poeta ha de ofrecer provocaciones para la complicidad del lector, bien sea en el territorio del pensamiento: "En ciertos países/la policía es tan corrupta/que no existe el delito", o en el territorio del imaginario: "Cuando hicimos el amor/desnudos sobre mi lecho/tú estabas en otro lado/y yo bastante más lejos"...o bien: "Te cuidabas tanto/de no quedar preñada/que nuestro hijo nació huérfano de madre".Las reflexiones de Mazo responden a tres parcelas fundamentales: la violencia del sistema contra los perdedores, el amor y la comprobación que el tiempo es relativo salvo cuando se convierte en muerte. El torrente de propuestas de análisis lógicamente conlleva alguna ganga, pero sorprende el número de veces que estas escrituras de Mazo nos obligan a situarnos interesados en un inmenso territorio que comprende desde la ternura al sarcasmo. Como si sólo valiera la pena vivir para mantener ese diálogo, a costa de la constatación de muchos fracasos que en realidad son otros tantos suicidios, porque en todo amor hay una voluntad de suicidio que afortunadamente se supera cuando termina el autoengaño...”(Del prólogo de Manuel Vázquez Montalbán).
Tive o prazer de o conhecer nas Ramblas em Barcelona. Sempre que lá vou, procuro-o. Ali está ele a vender os seus livros na rua. Sempre corrosivo, sempre inesperado. Uma das vezes, "salvou" um amigo meu de ser assaltado em plenas Ramblas, enquanto folheávamos os seus livros na banca. O assaltante já tinha a mão dentro da mochila do Zé. Eduardo Mazo, silencioso, olhava fixamente e fazia trejeitos com a cabeça, enquanto nós, olhando para ele, não percebíamos nada do que se estava a passar. Entretanto diz ele: "Já te salvei de seres assaltado, já os conheço como aos meus livros", e concluíu: "Eles roubam assim, eu roubo a vender os meus livros. Cada um rouba como sabe."
Para saber mais sobre este homem e a sua obra: http://www.eduardomazo.com/

17/08/06

"Memórias Póstumas de Brás Cubas"



"Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem”.

Para saber mais sobre esta obra de Machado de Assis (1839-1908) é só clicar no título do post.
Um óptimo livro para ler em férias.

16/08/06

Teatro na Serra do Montemuro

A aldeia de Campo Benfeito em plena Serra de Montemuro, é o exemplo de como os motores de (des)envolvimento podem ser diversos. Aqui foi o Teatro. Os jovens não partiram. Ficaram. A aldeia não envelheceu. Vive! De 12 a 20 de Agosto a 9ª Edição do Festival Altitudes.

12/08/06

DiáriosxBlogues










Dantes, fechávamo-los à chave.
Agora, abrimo-los ao mundo.
Diários. Blogues.







11/08/06

Civilização e Cultura por Almada Negreiros

"Uma mesa cheia de feijões.
O gesto de os juntar num montão unico. E o gesto de os separar, um por um, do dito montão.
O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo que o segundo.
Se em vez da mesa fosse um território, em logar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalisar cada uma delas.
O primeiro gesto, o de reunir, aúnar, tornar úno, todas as pessoas de um mesmo território, é o processo de CIVILISAÇÃO.
O segundo gesto, o de personalisar cada ser que pertence a uma civilisação é o processo da CULTURA.
É mais difícil a passagem de civilisação para cultura do que a formação da civilisação.
A civilisação é um fenómeno colectivo.
A cultura é um fenómeno individual.
Não há cultura sem civilisação, nem civilisação que perdure sem cultura.

(Aqui há uma ilustração cujo desenho representa uma balança perfeitamente equilibrada com a civilisação num dos pratos e a cultura no outro).

FIM
Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilisação sem cultura.
As excepções, inclusivé as geniaes, não fazem senão confirma-lo. "

Copiado de Sudoeste, Cadernos de Almada Negreiros, 1935





PORTUGAL - ALMADA NEGREIROS

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SW
Sudoeste
Oeste e Sul

Extremo Oeste e extremo Sul

Extremo Oeste do Sul e extremo Sul do Oeste

SW EUROPA


Sudoeste da Europa

Oeste da Europa e Sul da Europa

Extremo Oeste da Europa e extreno Sul da Europa

Extremo Oeste do Sul da Europa e extremo Sul do Oeste da Europa

PORTUGAL

[in Cadernos de Almada Negreiros, 1935]

AS PALAVRAS

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As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
[1923-2005]

09/08/06

JS BACH - AS VARIAÇÕES DE GOLDBERG

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Diz-se que foram compostas para minimizar as insónias de um Conde. Aqui deixo algumas das variações das variações. Gosto de cada uma delas de modo diferente. A de Uri Caine, é sem dúvida, muito peculiar.

1. URI CAINE ENSEMBLE - A SURPRESA

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2. KEITH JARRET - CRAVO

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3.GLENN GOULD - PIANO

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4. ANDRÁS SHIFF - PIANO

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08/08/06

Verão

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Verao

Giuseppe Arcimboldo

[1530-1593]

04/08/06

MAIS PERTO DO CEU

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Nasci num lugar
onde quase se toca o o céu com as pontas dos dedos,
onde, de noite, as estrelas têm mais brilho,
onde a linha do horizonte é longínqua.
...

É por isso que às vezes sofro de claustrofobia.

Quatro de Agosto de Mil Novecentos e Noventa

03/08/06

Sapatos MBT [Masai Barefoot Technology]

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Estes sapatos parecem mágicos! Obrigam-nos a andar de costas direitas e aliviam as dores nas pernas. Desde que comprei as sandálias, nunca mais calcei outra coisa!
Clicar aqui: As Coisas da Rita.

02/08/06

Não precisa de título

Afinal é para aqui que quero vir...

Sem Título




Socorro, tirem-me daqui e ponham-me ali em cima! Ufa!

01/08/06

"A sombra do vento" de Carlos Ruiz Zafón










Um livro belíssimo.

Lambe Botas - Colecção Outono/Inverno 2006/2007



Quanto maior for a bota mais se pode lamber, embora na minha terra se diga que "quem nunca se fartou a comer, também não se farta a lamber"