28/02/11

A FORMA JUSTA

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A forma justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Sophia de Mello Breyner Andresen
in O Nome das Coisas



- F Mendelssohn
Canções sem palavras
Op 30 - nº 1
Piano - D Barenboim


Fotografia - Tinta Azul. 05.02.11
Música - YouTube

1 comentário:

Manuel Veiga disse...

texto muito belo. como a tua música...

beijos