28/09/09

REENCONTRO DE AFECTOS

.

.
Foi uma presença de afecto entre os meus 10 e 18 anos de idade, tempo em que vivi em Lamego, hospedada no Lar de Almacave, e frequentei a Escola Preparatória seguida da Secundária de Almacave [actualmente Latino Coelho, recuperado o antigo nome do Liceu de Lamego].
Passaram-se 28 anos sem a ver. Hoje fui a Lamego e casualmente - ou talvez não - soube dela. Não hesitei e mudei o curso do dia, de trabalho, pedindo a um amigo que me levasse ao Lar de Idosos para a visitar. Encontrei-a, muito velhinha, com 95 anos, e o mesmo ar doce que dela guardei todos estes anos. Receei que não se lembrasse de mim. Não se recordou de imediato do meu nome mas dizia conhecer-me. Porém, não demorou muito para que se lembrasse de tudo e me situasse perfeitamente. Depois falou, com precisão, da última vez que falámos ao telefone [por causa de um almoço de antigas alunas que se estava a organizar, ao qual não cheguei a ir já não me recordo porque razão] dizendo-me que eu ficara de voltar a falar e nunca mais o fizera. E foi verdade. Talvez por isso, hoje, não tenha adiado a visita para outro dia. Pude, assim, dizer-lhe o quanto gostava dela e como ela tinha feito a diferença* naquela grande casa cheia de raparigas a quem tratava com muito afecto e compreensão. Disse-me, por sua vez, que sempre tinha gostado muito de mim perguntando-me se eu o sabia. Sempre o soube, sempre o senti. E por isso hoje me emocionei tanto. E por isso fiquei com pena de não poder ficar mais tempo ali debruçada sobre a cama com as suas mãos tão pequeninas e frágeis entre as minhas. Agradeceu-me muito a visita dizendo que ia ficar triste por eu ter que vir embora. Fiquei de voltar. Saí de lágrimas nos olhos e também foi assim que ela ficou.
Espero poder cumprir.
Há pessoas que ficam para sempre guardadas dentro de nós. A D. Alzirinha ficou. Pela sua ternura, afecto e muita doçura num tempo em que as saudades de casa e dos pais doíam muito. Num tempo em que quem vivia na aldeia tinha que sair de casa, ainda criança, para estudar além da 4ª classe.



_Bach/Gounod
Avé-Maria
Violoncelo - Julian Lloyd Webber


*[A propósito da diferença, aqui, onde se fala da Directora do Lar.]


Fotografia - TINTA AZUL. 17.09.09
Música - YouTube.ewabp

4 comentários:

nydia bonetti disse...

Que texto lindo, me emocionei com você. Este sentimento de reencontrar pessoas do passado é sempre tão contraditório. Alegria e dor se misturam, mas como vale a pena... beijo

Pulsante disse...

Ainda bem - para ambas - que lá foste :)

mdsol disse...

Que bom. Também me emocionei. Até porque no tempo em que ela fez a diferença para ti, eras ainda a minha menina pequenina.
:)))

João Menéres disse...

DESISTO!!!

Ontem fiz um comentário grandinho.
Agora, fiz outro. Dizia que não me ia estender tanto.
Acabei por escrever quase tanto ou mais.
Ao clicar na barrinha vertical, para chegar à pre-visualização, devo ter tocado no fundo azul e tudo se foi de novo.
D E S I S T O !!!

Tenho pena que não possas ler o que te queria dizer...

Um beijo com saudades de te ver.