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Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa
in Volante Verde
- Wim Mertens
A Tiels Leis
Fotografia - Tinta Azul.14.08.2010
Música - YouTube.suffig
2 comentários:
Também fã do ARR ?
Respiras bom gosto por todos os poros!
Um beijo.
a diferença óbiva entre Poeta e "escrevedor de poeminhas"...
belíssimo!
beijos
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