25/09/10

A FESTA DO SILÊNCIO

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Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.


António Ramos Rosa
in Volante Verde





- Wim Mertens
A Tiels Leis


Fotografia - Tinta Azul.14.08.2010
Música - YouTube.suffig

2 comentários:

João Menéres disse...

Também fã do ARR ?
Respiras bom gosto por todos os poros!

Um beijo.

Manuel Veiga disse...

a diferença óbiva entre Poeta e "escrevedor de poeminhas"...

belíssimo!

beijos