29/11/10

CONTEMPLO O QUE NÃO VEJO

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Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.

Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.

Fernando Pessoa


- G Caccini
Avé Maria
Soprano-Ewa Iżykowska
Piano-Jerzy Maciejewski


Fotografia - Tinta Azul. 24.10.09
Música - YouTube

2 comentários:

João Menéres disse...

Um par impossível de acontecer no real :
TU e o Pessoa...
Mas, vale-nos a blogosfera para imaginar o que poderia ser...

Um beijo de admiração incondicional (por um e outro).

Manuel Veiga disse...

olhar com os olhos da alma. ou da iamginação.

beijos