Ondas que descansam no seu gesto nupcial abrem-se caem amorosamente sobre os próprios lábios e a areia ancas verdes violetas na violência viva rumor do ilimite na gravidez da água sussurros gritos minerais inércia magnífica volúpia de agonia movimentos de amor morte em cada onda sublevação inaugural abre-se o corpo que ama na consciência nua e o corpo é o instante nunca mais e sempre ó seios e nuvens que na areia se despenham ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões ó eternidade do mar ensimesmado unânime em amor e desamor de anónimos amplexos múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes ó mar ó presença ondulada do infinito ó retorno incessante da paixão frigidíssima ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!
António Ramos Rosa
Cresce. De onda em onda. Bem alto. Até ao céu. Mar. Amor. Meu. Azul cobalto.
Foi um belíssimo concerto. A música de Bach, muito bem interpretada, comoveu-me. Talvez mais que o costume, porque, talvez, o meu estado de exaustão me torne ainda mais sensível à música e a tudo aquilo de que gosto. Encheram-se-me os olhos de um mar muito suave. A música é, sem dúvida, um perfume extraordinário para os meus sentidos. De pétalas de rosas muitíssimo raras.
_JS Bach Concerto para Oboe d'Amore The English Concert Direcção -Trevor Pinock