30/05/07

PLATEIA

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Não sei quantos seremos, mas que importa?!
um só que fosse e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga, Câmara Ardente, 1962


É a segunda vez que posto este poema de Torga no blogue. Faz-me todo o sentido voltar a pô-lo aqui, considerando os dias que correm. Mais não digo, porque o poema diz tudo.

Na fotografia: metade de um armário, que obviamente tem outra metade, metade esta que também tem uma gaveta tal como a que se vê na fotografia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha cara: Em relação ao poema, deixa-me adivinhar...Terá sido a mesma motivação que le levou a escrever isto ontem?


Não digo que me sinta num filme de terror. Admito que seja um exagero. Mais apropriado será pensar-me num filme de marcianos! É que, amiúde, desde a linguagem ao significado último dos gestos, nada tem sentido para aquela minha lógica que funciona nos momentos ímpares da minha intimidade comigo mesma!

Socorro? Não! Nem sequer me chega a sair um esgar que apele à ajuda, porquanto, no registo em volta, não existe ajuda possível. Assim sendo, rapidamente os pés voltam ao chão. Chão incompleto, mas, ainda assim, chão necessário! Para não desistir de vez!

Mana Velha

Nota duvidosa: Quem é que tem a condição marciana? Não me tendo na conta em que a avó tinha o neto que, coitado, era o único a marchar direitinho, é bom de ver que me admito bastante esverdeada!