De manhã. Passagem rápida. Apressada. À noite. Espera. Extenuada. Entretanto mais um dia. De trabalho. Viagem de madrugada. Viagem ao anoitecer. Entre tantos lugares comuns. Entretantos de outros olhares, de outros sentires, de outra música. E o desejo de chegar. A casa. O conforto. O descanso.
As imagens - da Estação de Santa Apolónia, onde tantas vezes passei e esperei pelo alfa pendular que me havia de trazer de regresso a casa.
A música - da Sinfonia nº 2 de Gustav Mahler - Ressureição -, reinterpretada por Uri Caine. [CD Urlicht/Primal Light]
O poder dos sons das teclas tocadas mãos em outras mãos.
A repercussão dos sons das mãos nas mãos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10...
O andamento das mãos repercutidas pelos sons 2, 4, 6, 8, 10... allegro, vivace, presto...
Mãos e sons que tocam. Mãos e sons que são tocados. Batentes.Martelos. Amaciados. Estruturas. Rígidas. Flexibilizadas.
Música nos dias. Música que [nos]toca.
Dentro de nós.
_JSBach/Myra Hess Jesus, alegria dos homens
Piano - Nelson Freire
Piano [1] - Instrumento de cordas cuja percussão se faz por meio de martelos accionados por teclas.
Piano [2] Instrumento musical de corda percutida. Também é definido modernamente como instrumento de percussão porque o som é produzido quando os batentes, cobertos por um material macio e designados martelos, e sendo ativados através de um teclado, tocam nas cordas esticadas e presas numa estrutura rígida de madeira ou metal. As cordas vibram e produzem o som.
[1]- Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea - Academia das Ciências de Lisboa. [2] - Wikipédia.
Fotografia - TINTA AZUL. 12.02.09 Música - YouTube
Queijo fresco, presunto, oregãos, mostarda. Tudo aconchegado, entre duas fatias de pão escuro tostado. Fino, elegante, de cerveja dourada. Adiante duas pontes brancas. O Douro ali ao lado, dum almoço breve, frugal, mas descansado.
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O almoço de ontem. O mesmo do dia 29.07.08, mas outro.
O mesmo moço. As mesmas raparigas. O mesmo lugar. Outro o tempo. Tempo de Verão. Antes. Tempo de Inverno. Agora. O mesmo moço. As mesmas raparigas. Mais um Verão. Mais um Outono. Mais meio Inverno. O mesmo moço, as mesmas raparigas. Os mesmos. Não exactamente iguais. Porque um Verão, um Outono e meio Inverno passaram.
O Rio. O mesmo. Mas outro. Sempre a correr. A foz não demora. Desagua e é outro, outra a água, e é sempre o mesmo. O Douro. Azulado, ontem.
O Sol. O mesmo também. Hoje com outro brilho. O brilho depois de uma ausência prolongada. A luz do regresso. Do que é desejado.
[E um dia, que não é hoje e por isso outro há-de ser, hei-de pegar nestas palavras mal amanhadas e dar-lhe o sentido que hoje queria. O mesmo. Que depois não será exactamente igual.]
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_F. Mendelssohn Canção sem palavras [1-3, op 53] Piano - Daniel Barenboim
__Barbara Sukova. Reinbert de Leuw. Ensemble Schönberg
Os amigos, os que o são mesmo, não nos oferecem qualquer coisa. Qualquer coisa para cumprir uma obrigação. De uma data. Os amigos, os mesmo mesmo, sabem do que gostamos. Põem um cuidado especial no que nos dão. Por isso acertam sempre. Por isso os guardo, os amigos, mesmo, com cuidado especial, também. Hoje foi assim. Obrigada pelo CD, ZC.
Lieder de Schuman e Schubert Barbara Sukova Reinbert de Leuw Ensemble Schönberg
Porque a chuva e o frio persistem. Porque continuo suspensa. Por um fio tenso. À espera. Que o céu desanuvie.
[E amanhã é segunda-feira.]
[E porque amanhã é segunda-feira.]
Libera me
Livrai-me, Senhor, De tudo o que for Vazio de amor.
Que nunca me espere Quem bem me não quer [Homem ou mulher].
Livrai-me também De quem me detém E graça não tem,
E mais de quem não Possui nem um grão De imaginação.
Carlos Queirós[1907-1949]
Porque guardo uma memória azul do dia em que vi/ouvi Boris Belkin ao vivo num grande concerto. [Porque também gosto muito das interpretações dos grandes violinistas David Oistrakh e Jascha Heifetz, ficam três.]
_Tchaikovsky Concerto para violino [excerto 1º andtº] Solista - Boris Belkin Orquestra Filarmónica de Nova Iorque Direcção - Leonardo Bernstein
_Tchaikosvky Concerto para violino [excerto 1º andtº] Solista - David Oistrakh
_Tchaikosvky Concerto para violino [1º andtº] Solista - Jascha Heifetz Orquestra Sinfónica Carnegie Hall Direcção - Fritz Reiner
Sós, irremediavelmente sós, como um astro perdido que arrefece. Todos passam por nós, e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam. Todos se desconhecem. Os astros nada explicam: arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta, quer se grite ou não se grite, nenhum dar-se de dentro se refracta, nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento sou eu só, e mais ninguém. Quem sofre o meu sofrimento sou eu só, e mais ninguém. Quem estremece este meu estremecimento sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços dão-se os olhos, dão-se os dedos, bocetas de mil segredos dão-se em pasmados compassos; dão-se as noites, dão-se os dias, dão-se aflitivas esmolas, abrem-se e dão-se as corolas breves das carnes macias; dão-se os nervos, dá-se a vida, dá-se o sangue gota a gota, como uma braçada rota dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto que no silêncio concreto, este oferecer-se de dentro num esgotamento completo, este ser-se sem disfarce, virgem de mal e de bem, este dar-se, este entregar-se, descobrir-se e desflorar-se, é nosso, de mais ninguém."
António Gedeão, in Teatro do Mundo
[mas, há quem consiga aproximar-se bastante do que é e de como é, dentro de nós.]
[Contudo, dois grãos de poeira também. Um aqui. Outro ali. Circunscritos. Serviram para avivar, ainda mais, o azul e as outras cores. Para dar mais valor e reforçar. Nós. Laços.]
Nós de ouro sobre o azul e as outrascores dos laços.
_F. Mendelssohn Auf Flugeln des Gesanges por Sarah Chang
Imagens - Fotografias. A partir de fotografias. TINTA AZUL. 3.02.09 Música - YouTube.MahaKrisna
[Logo pela manhã quando ía tomar o pequeno-almoço, num prato de biscoitos, coberto por um paninho bordado a ponto de cruz, num post-it amarelo li, a letra da minha filha, assim: Feliz Aniversário. Podem estar moles/duros porque foram feitos ontem à noite. Beijinhos. MJ.] [Nos comentários do post anterior. Alguém se lembrou que hoje é o dia dos meus anos.] [Porque descobri hoje, há instantes, que alguém de quem muito gosto também faz hoje anos.]
Por isso,
Pétalas brancas. De neve. Sobre azul. Do universo.
Porque faz hoje 46 anos o lugar onde nasci estava coberto de branco. De neve. Porque no lugar onde nasci o azul do céu se cobre de estrelas quando anoitece. Porque hoje no lugar onde estou há branco. De pétalas. Porque hoje no lugar onde estou há azul. De estrelas a brilhar.
Porque Felix Mendelssohn, também, nasceu a 3 de Fevereiro.
_F. Mendelssohn Canção sem palavras [op 109] Violoncelo - Jacqueline du Pré Piano - Iris du Pré