.
.
Abrem-se janelas
à procura de portas
com azul
.
Que 2011
tenha muitos dias da cor do céu.
[quando ele está limpo]
-- Johann S Bach
Sarabande - BWV 828 - 5
Piano - Glenn Gould
Fotografias - Tinta Azul 2009
Música - YouTube
30/12/10
24/12/10
BOM NATAL - COM TODAS AS CORES
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Silent Night ___________________ Sinead O'Connor
Fotografia - Tinta Azul. 21.12.2010
Música - YouTube
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Silent Night ___________________ Sinead O'Connor
Fotografia - Tinta Azul. 21.12.2010
Música - YouTube
19/12/10
SOLIDÃO
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.
Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!
Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.
És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sentes...
Que plenitude de solidão, mar solitário!
Juan Ramón Jiménez
Fotografia - Tinta Azul. 19.08.09
.
Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!
Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.
És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sentes...
Que plenitude de solidão, mar solitário!
Juan Ramón Jiménez
- G Mahler/U Caine
Urlicht/Primal Light
Fotografia - Tinta Azul. 19.08.09
Música - YouTube.Aluaflutua
11/12/10
O TEATRO DAS CIDADES
.
.
Qualquer tempo é um tempo duvidoso
assim o meu cercado de cidades
plataformas instáveis
praticáveis cobertos de infinita gente náufraga
que se inclina nas águas como um palco
Paro na convergência dos estrados
chove já sobre a raça ameaçada
Incertas multidões em volta passam
contemporâneas falam interpretam
a duvidosa língua das imagens
Assim no teatro abstracto das cidades
morrem palavras sobre um palco náufrago
O tempo cobre o céu que se enche de água
Gastão Cruz, in O Pianista
- R Schumann
Sonata nº 2 [1º andto]
Violino - Renaud Capuçon
Piano - Martha Argerich
Fotografia - Tinta Azul.9.12.10
Música - YouTube
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Qualquer tempo é um tempo duvidoso
assim o meu cercado de cidades
plataformas instáveis
praticáveis cobertos de infinita gente náufraga
que se inclina nas águas como um palco
Paro na convergência dos estrados
chove já sobre a raça ameaçada
Incertas multidões em volta passam
contemporâneas falam interpretam
a duvidosa língua das imagens
Assim no teatro abstracto das cidades
morrem palavras sobre um palco náufrago
O tempo cobre o céu que se enche de água
Gastão Cruz, in O Pianista
- R Schumann
Sonata nº 2 [1º andto]
Violino - Renaud Capuçon
Piano - Martha Argerich
Fotografia - Tinta Azul.9.12.10
Música - YouTube
05/12/10
ROSAS DE MAR
29/11/10
CONTEMPLO O QUE NÃO VEJO
.
.
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.
Fernando Pessoa
- G Caccini
Avé Maria
Soprano-Ewa Iżykowska
.
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.
Fernando Pessoa
- G Caccini
Avé Maria
Soprano-Ewa Iżykowska
24/11/10
PINTURA DOS DIAS
20/11/10
CONFISSÃO
.
.
De um e outro lado do que sou,
da luz e da obscuridade,
do ouro e do pó,
ouço pedirem-me que escolha;
e deixe para trás a inquietação,
a dor,
um peso de não sei que ansiedade.
Mas levo comigo tudo
o que recuso. Sinto
colar-se-me às costas
um resto de noite;
e não sei voltar-me
para a frente, onde
amanhece.
Nuno Júdice
- J Massenet
Elegie
Violoncelo - M. Maisky
Piano - P. Gavilov
Fotografia - Tinta Azul.20.11.10
Música - YouTube
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De um e outro lado do que sou,
da luz e da obscuridade,
do ouro e do pó,
ouço pedirem-me que escolha;
e deixe para trás a inquietação,
a dor,
um peso de não sei que ansiedade.
Mas levo comigo tudo
o que recuso. Sinto
colar-se-me às costas
um resto de noite;
e não sei voltar-me
para a frente, onde
amanhece.
Nuno Júdice
- J Massenet
Elegie
Violoncelo - M. Maisky
Piano - P. Gavilov
Fotografia - Tinta Azul.20.11.10
Música - YouTube
13/11/10
AS CORES DE DENTRO
.
.
[in]vento
.
[in]vento
azul
com fogo
com fogo
dentro
na palidez
do dia
do dia
frio e cinzento
- H Villa-Lobos
Bachiana nº 5
Amel Brahim
Fotografia - Tinta Azul. 13.11.10
Música - YouTube
- H Villa-Lobos
Bachiana nº 5
Amel Brahim
Fotografia - Tinta Azul. 13.11.10
Música - YouTube
08/11/10
CHÃO AZUL
07/11/10
30/10/10
REVOLUÇÃO
.
.
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner Andresen
- N Paganini
Capricho nº 21
Violino-Leonid Kogan
Fotografia - Tinta Azul.09
Música - Youtube
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Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner Andresen
in O Nome das Coisas
- N Paganini
Capricho nº 21
Violino-Leonid Kogan
Fotografia - Tinta Azul.09
Música - Youtube
17/10/10
FECHADA EM ESPAÇO ABERTO
.
.
.
absorta
concreta
no tempo abstrato
quieta
fechada
em espaço aberto
- Beethoven
Sonata nº5 - Op.10 nº1 [I]
Piano - Cláudio Arrau
Fotografia - Tinta Azul. 23.07.10
.
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absorta
concreta
no tempo abstrato
quieta
fechada
em espaço aberto
- Beethoven
Sonata nº5 - Op.10 nº1 [I]
Piano - Cláudio Arrau
Fotografia - Tinta Azul. 23.07.10
Quintas - homo ambientys, 1999 - Acrílico sobre tela, 1,13x1,60 m
Música - YouTube
08/10/10
QUANDO CHOVE E QUANDO NÃO
.
.
Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Alberto Caeiro
_____________
só gosto da chuva
quando há Sol
só gosto do Sol
quando não há chuva
- Brad Mehdau
When it Rains
Fotografia - Tinta Azul. 2008
Música - YouTube
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Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Alberto Caeiro
_____________
só gosto da chuva
quando há Sol
só gosto do Sol
quando não há chuva
- Brad Mehdau
When it Rains
Fotografia - Tinta Azul. 2008
Música - YouTube
06/10/10
COEXISTIR
.
.
existimos
na coexistência
da luz e da sombra
- F Chopin
Étude - Op 10 nº1
Piano:
Valentina Lisitsa
Fotografia - Tinta Azul. 04.08.10
Música - YouTube.ValentinaLisitsa
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existimos
na coexistência
da luz e da sombra
- F Chopin
Étude - Op 10 nº1
Piano:
Valentina Lisitsa
Fotografia - Tinta Azul. 04.08.10
Música - YouTube.ValentinaLisitsa
05/10/10
ONDAS DE RIO
QUASE PARADOXO. NO DIA 5 DE OUTUBRO
.
.
Como precisas de nobreza...
... de carácter
ó República Portuguesa!
- Alfredo Keill/Luís Pipa
My Beautiful Blue Country
Piano - Luís Pipa
Imagem - Tinta Azul 2008
Música - YouTube.aluaflutua
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Como precisas de nobreza...
... de carácter
ó República Portuguesa!
- Alfredo Keill/Luís Pipa
My Beautiful Blue Country
Piano - Luís Pipa
Imagem - Tinta Azul 2008
Música - YouTube.aluaflutua
03/10/10
PORQUE HOJE É DOMINGO
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POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO
Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.
Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote.1999
- L Godowsky
Standchen
Piano - Nelson Freire
Fotografia - Tinta Azul.25.09.10
Música - YouTube.totaldynamix
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POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO
Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.
Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote.1999
- L Godowsky
Standchen
Piano - Nelson Freire
Fotografia - Tinta Azul.25.09.10
Música - YouTube.totaldynamix
02/10/10
SENTIDOS OBRIGATÓRIOS
01/10/10
IF
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.
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!
- Michael Nyman
If
Hilary Summers
Fotografia - Tinta Azul. Julho 2010.
Música - YouTube
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If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!
Rudyard Kipling
SE
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
Tradução de Guilherme de Almeida
SE
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
Tradução de Guilherme de Almeida
- Michael Nyman
If
Hilary Summers
Fotografia - Tinta Azul. Julho 2010.
Música - YouTube
25/09/10
A FESTA DO SILÊNCIO
.
.
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa
- Wim Mertens
A Tiels Leis
Fotografia - Tinta Azul.14.08.2010
Música - YouTube.suffig
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Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa
in Volante Verde
- Wim Mertens
A Tiels Leis
Fotografia - Tinta Azul.14.08.2010
Música - YouTube.suffig
15/09/10
COR DE FOGO COR DE CINZA
.
.
ardem os olhos
há fogo e cinza
na cor do olhar
- W Mertens
Wandering eyes
Fotografia - Tinta Azul. 20.07.10
Música - YouTube
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ardem os olhos
há fogo e cinza
na cor do olhar
- W Mertens
Wandering eyes
Fotografia - Tinta Azul. 20.07.10
Música - YouTube
11/09/10
11 DE SETEMBRO
.
.
POEMA LIMO
De não ser deus nem bicho
nem sossego de pedra
de reflectido lixo
faz-se o homem poeta
se de algo se de alga
a origem é incerta
se bruscamente breve
qual círculo na água
o homem para que serve?
Natália Correia
in Poesia Completa
Publicações D. Quixote, Lisboa 1999
Leonard Slatkin Conducts the BBC Orchestra on September 15 2001 in honor of those who lost their lives a few days prior.
Visuals from BBC's 'Last Night of the Proms' and ABC's ' Report from ground zero
Imagem - a partir de fotografia. Tinta Azul. 2009
Música - YouTube
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POEMA LIMO
De não ser deus nem bicho
nem sossego de pedra
de reflectido lixo
faz-se o homem poeta
se de algo se de alga
a origem é incerta
se bruscamente breve
qual círculo na água
o homem para que serve?
Natália Correia
in Poesia Completa
Publicações D. Quixote, Lisboa 1999
Leonard Slatkin Conducts the BBC Orchestra on September 15 2001 in honor of those who lost their lives a few days prior.
Visuals from BBC's 'Last Night of the Proms' and ABC's ' Report from ground zero
Imagem - a partir de fotografia. Tinta Azul. 2009
Música - YouTube
10/09/10
OS JUSTOS
.
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Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luís Borges
[tradução de Fernado Pinto do Amaral]
- G Winston
Thanksgiving
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Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luís Borges
[tradução de Fernado Pinto do Amaral]
- G Winston
Thanksgiving
Fotografia - Tinta Azul. 25.07.10
Música - YouTube
07/09/10
EVOLUFICAR
.
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Volto-me.
.
Volto-me.
Re
volto-me.
[não vejo solução].
E o mundo continua,
impávido
e pouco sereno,
a sua estranha evolução.
- F Chopin
Estudo Revolucionário
Op 10 nº 12
Piano -Sviatoslav Richter
Fotografia - Tinta Azul.1.08.10
Música - YouTube
- F Chopin
Estudo Revolucionário
Op 10 nº 12
Piano -Sviatoslav Richter
Fotografia - Tinta Azul.1.08.10
Música - YouTube
08/08/10
SOMBRAS DE LUZ
.
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sombras de luz
no azul crepuscular
o calor dilata os corpos
e os poros da alma
também
- G Winston
Love Song to a Ballerina
Fotografias - Tinta Azul. 7.08.10
Música - YouTube
.
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sombras de luz
no azul crepuscular
o calor dilata os corpos
e os poros da alma
também
- G Winston
Love Song to a Ballerina
Fotografias - Tinta Azul. 7.08.10
Música - YouTube
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01/08/10
RELATIVIDADE
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pouco sei da velocidade da luz,
- ainda que me digam: 299 .792.458 metros por segundo! -
tão pouco da da sombra;
sei, contudo, da velocidade das horas:
da rapidez das luminosas,
da lentidão das sombrias
.
pouco sei da velocidade da luz,
- ainda que me digam: 299 .792.458 metros por segundo! -
tão pouco da da sombra;
sei, contudo, da velocidade das horas:
da rapidez das luminosas,
da lentidão das sombrias
- ainda que me digam que ambas demoram, exactissimamente, os mesmos 60 minutos a passar - ;
...
não, não é surpreendente
que um minuto dure horas.
e horas passem de repente.
- Philip Glass
Einstein on the beach
Fotografia - Tinta Azul. 24.07.10
Música - YouTube
...
não, não é surpreendente
que um minuto dure horas.
e horas passem de repente.
- Philip Glass
Einstein on the beach
Fotografia - Tinta Azul. 24.07.10
Música - YouTube
25/07/10
O PODER DO AZUL [9]
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deixo o peso,
sózinho,
caído no chão
elevo a alma
e caminho
no azul
do céu limpo
da imaginação
- G Winston
Walking in the air
Fotografia - Tinta Azul. 24.07.10
Música -YouTube
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deixo o peso,
sózinho,
caído no chão
elevo a alma
e caminho
no azul
do céu limpo
da imaginação
- G Winston
Walking in the air
Fotografia - Tinta Azul. 24.07.10
Música -YouTube
17/07/10
IDENTIDADE
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Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
Fotografia - Tinta Azul.8.04.10
Música - YouTube
.
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
in Raiz de Orvalho e Outros Poemas
- Charles V Alkan
Três Grandes Estudos para Piano - Op 76
- Charles V Alkan
Três Grandes Estudos para Piano - Op 76
nº 3 - Mouvement semblable et perpetuel
para mãos reunidas
por Marc- Andre Hamelin
por Marc- Andre Hamelin
Fotografia - Tinta Azul.8.04.10
Música - YouTube
11/07/10
OS MEUS PENSAMENTOS SÃO TODOS SENSAÇÕES
.
.
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro,
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Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro,
in O Guardador de Rebanhos
- JS Bach
Concerto para 2 violinos - 2º andto
Yehudi Menuhin e David Oistrakh
Imagem - Tinta Azul. 11.07.10
Música - YouTube
- JS Bach
Concerto para 2 violinos - 2º andto
Yehudi Menuhin e David Oistrakh
Imagem - Tinta Azul. 11.07.10
Música - YouTube
10/07/10
08/07/10
ANSIEDADE
.
.
Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.
Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!
Manuel da Fonseca,
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Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.
Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!
Manuel da Fonseca,
in Poemas Dispersos
- S Rachamaninov
Prelúdio - Op 23, nº 5
Piano - V Lisitsa
Fotografia - Tinta Azul. 7.07.10
Música - Youtube.ValentinaLisitsa
- S Rachamaninov
Prelúdio - Op 23, nº 5
Piano - V Lisitsa
Fotografia - Tinta Azul. 7.07.10
Música - Youtube.ValentinaLisitsa
04/07/10
PROMESSA DO PÃO
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na água dos olhos
a contemplação
no vento alado
o perfume das rosas
no trigo dourado
a promessa do pão
- César Franck
Panis Angelicus
por Andrea Bocelli
Fotografia - Tinta Azul. 27.06.10
Música - YouTube
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na água dos olhos
a contemplação
no vento alado
o perfume das rosas
no trigo dourado
a promessa do pão
- César Franck
Panis Angelicus
por Andrea Bocelli
Fotografia - Tinta Azul. 27.06.10
Música - YouTube
24/06/10
21/06/10
SE CADA DIA CAI
.
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Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda
Últimos Poemas
- M Whalen
First Light
Fotografia - Tinta Azul.15.06.10
Música - YouTube.
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Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda
Últimos Poemas
- M Whalen
First Light
Fotografia - Tinta Azul.15.06.10
Música - YouTube.
19/06/10
POESIA
.
.
.
É dia no outro mundo
Dos versos.
Abriu-se a noite num halo
De véu caído,
E uma mensagem de charco
Purificado
Entra, branca, no ouvido...
E há um ouvido acordado.
Miguel Torga
in Poesia Completa
D. Quixote, 2000
- Reynaldo Hahn
L'Heure Exquise
Violoncelo:
J Lloyd Webber
Fotografia - Tinta Azul.12.06.10
Música - YouTube.JLWFan1
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É dia no outro mundo
Dos versos.
Abriu-se a noite num halo
De véu caído,
E uma mensagem de charco
Purificado
Entra, branca, no ouvido...
E há um ouvido acordado.
Miguel Torga
in Poesia Completa
D. Quixote, 2000
- Reynaldo Hahn
L'Heure Exquise
Violoncelo:
J Lloyd Webber
Fotografia - Tinta Azul.12.06.10
Música - YouTube.JLWFan1
13/06/10
MAR
.
.
.
mar sonoro
palavra
calada
letras brancas
recolhidas
em redes
entretecidas
sobre azul silencioso
Sea - George Winston
Fotografia - Tinta Azul.12.06.10
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mar sonoro
palavra
calada
letras brancas
recolhidas
em redes
entretecidas
sobre azul silencioso
Sea - George Winston
Fotografia - Tinta Azul.12.06.10
10/06/10
RAINDROPS
.
.
Chove assim
.
- Alfredo Keill
Murmures - Op 9 nº 2
Piano - G Canavilhas
Fotografias - Tinta Azul. 9.06.10
Música - YouTube.edwardgp
.
Chove assim
com azul
.
- Alfredo Keill
Murmures - Op 9 nº 2
Piano - G Canavilhas
Fotografias - Tinta Azul. 9.06.10
Música - YouTube.edwardgp
06/06/10
GEOMETRIAS AZUIS
.
.
Enquanto desço a Avenida
o meu olhar sobe. Até ao céu.
Sigo em frente, ficando para trás,
a guardar geometrias azuis desenhadas,
por entre outras formas e outras cores,
à luz do Sol que se sente mas que já não se vê.
- E Withacre
Lux Aurumque
The Concordia Choir
Direcção-René Clausen
Fotografias - Tinta Azul. 4.06.10
Música - YouTube.TheConcordiaChoir
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Enquanto desço a Avenida
o meu olhar sobe. Até ao céu.
Sigo em frente, ficando para trás,
a guardar geometrias azuis desenhadas,
por entre outras formas e outras cores,
à luz do Sol que se sente mas que já não se vê.
- E Withacre
Lux Aurumque
The Concordia Choir
Direcção-René Clausen
Fotografias - Tinta Azul. 4.06.10
Música - YouTube.TheConcordiaChoir
03/06/10
DEPOIS DAS ONDAS
01/06/10
DIA MUNDIAL DA CRIANÇA [TODOS OS DIAS]
.
No Dia Mundial da Criança ficam aqui três amostras [Miró-Francisco; Paul Klee - Nuno Miguel; Alexandre - Kandinsky] de um conjunto de interessantes analogias formais, cromáticas e expressivas entre o que faz a criança, o naif, o primitivo e o artista moderno. A Arte Moderna foi renovar-se numa antiguidade que a arte académica já não tinha olhos para alcançar - Almada Negreiros[...]
Dalila D'Alte Rodrigues em
A infância da Arte, a arte da infância Edições Asa. 2002.
Além do importante contributo para compreender melhor a, imprescindível, presença das artes na educação das crianças e jovens, é, também, um livro muito bonito que dá gosto olhar demoradamente.
Clicar nas imagens para ampliar._________________
Porque os tempos - o físico e o psicológico - não me deram tempo para um post novo, e porque há dias que deviam ser todos os dias, reponho este de 2008. Acrescento-lhe, no entanto, a música Cenas de Infância de Robert Schumann.
No Dia Mundial da Criança ficam aqui três amostras [Miró-Francisco; Paul Klee - Nuno Miguel; Alexandre - Kandinsky] de um conjunto de interessantes analogias formais, cromáticas e expressivas entre o que faz a criança, o naif, o primitivo e o artista moderno. A Arte Moderna foi renovar-se numa antiguidade que a arte académica já não tinha olhos para alcançar - Almada Negreiros[...]
Dalila D'Alte Rodrigues em
A infância da Arte, a arte da infância Edições Asa. 2002.
Além do importante contributo para compreender melhor a, imprescindível, presença das artes na educação das crianças e jovens, é, também, um livro muito bonito que dá gosto olhar demoradamente.
Clicar nas imagens para ampliar.
Porque os tempos - o físico e o psicológico - não me deram tempo para um post novo, e porque há dias que deviam ser todos os dias, reponho este de 2008. Acrescento-lhe, no entanto, a música Cenas de Infância de Robert Schumann.
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