24/11/07

O MAR

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O MAR

Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes
ó mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!

António Ramos Rosa
Facilidade do Ar

Porque este fim-de-semana não fui, nem vou, ver o meu mar. E tenho saudades.


Imagem - O Mar. Desenho digital. 24.11.07

3 comentários:

Carlos Henrique Leiros disse...

Minha cara Tinta Azul;
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Li atentamente a resenha sobre o Quinta de Fafide, de varietais autóctones portugueses, lembrando com gosto do tempo em que me deleitava semanalmente com vinhos escolhidos. Encontro-me impedido de degustá-los, mas não deixo de mão as adegas. Continuam sendo uma agradável visita.
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Deti-me também no poema de inspiração marítima, e apreciei a densidade dos sentimentos expressos pelo poeta. Aprovado!!
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Abraços a vc e grato pela resposta à minha indagação sobre o desenho.
Carlos

Tinta Azul disse...

Caro Carlos,
Lamento que não possas degustar um bom vinho, pois é daqueles prazeres que, de vez em quando, muito aprecio.
Muito bons vinhos e poetas, duas coisas (não comparáveis entre si, obviamente)que Portugal tem em abundância.
Um abraço.

Anónimo disse...

Sem saber, deixei-te um bocado de mar no meu blog...
Bj