Na última ida a Lisboa, apanhei dois interessantes taxistas. O da manhã, começou por dizer-me que pela cor e corrente do Tejo devia estar a chover muito em Espanha, contando-me depois como conhecia bem este rio. Atravessou-o a nado 7 vezes, contudo, conhece quem já o atravessou 9 vezes e diz não saber se, ainda, será capaz de igualar esse recorde. Não me pareceu muito preocupado com isso, tem noção do perigo de tal aventura, pois a idade não perdoa. Tentei consolá-lo dizendo que atravessar o Tejo, com aquela largura imensa, uma única vez que fosse, era já uma enorme façanha, quanto mais 5 vezes!
O taxista da tarde, foi mais invulgar na conversa. Começou por me dizer que no dia em que um cliente entrar no seu táxi, e lhe diga que não tem pressa, lhe diga para ir com calma, esse cliente não pagará a corrida, portanto, eu que fixasse o número do carro.
Depois, como nunca ninguém fez [que eu não conhecesse], contou-me o seu dia tim tim por tim, com todos os detalhes. Começou por dizer que só acabava o trabalho às 5 da manhã e então contou-me todo o seu dia a partir dessa hora. Que chegou a casa, comeu uma esparguetada que lhe soube muito bem, se deitou, mas pouco depois se levantou e foi com o filho comprar uns ténis ao Carrefour, porque lho tinha prometido. Que almoçou às tantas horas e o quê. Que, depois, meteu roupa na máquina e o quê. Que pôs amaciador. Que fez zapping. Que adormeceu um pouco no sofá. Que fez outra máquina de roupa, desta vez branca. Que pôs a roupa a secar, embora tivesse secador de roupa. Que tinha tomado um banho, vestido roupa lavada e ali estava a começar mais um dia de trabalho. Acabado o relato do dia, falou-me da gente da noite. Que gostava. Que havia gente boa. Que havia episódios engraçados. Ambos comentámos que, esses episódios, só os conhece quem os vê, pois o que nos dizem da noite, é que é perigosa, só é notícia aquilo que corre mal. Mas isso, já todos nós sabemos. Concordámos. Foi-me contando mais. Fui-o escutanto, porque quem assim fala é porque precisa e a mim nada me custava ouvir e às vezes até gosto. Para terminar e porque estavámos quase a chegar ao destino, contou-me o que, eventualmente, considerava mais importante. Que tinha sido seleccionado entre 30 colegas para fazer o anúncio do Actimel. E lá me repetiu o argumento do anúncio, embora eu o soubesse, porque faz parte de uma série de anúncios em que é escolhido um profissional de determinada ramo, considerado de desgaste e lá lá lá, o Actimel reforça as defesas e ajuda a cumprir muito melhor a missão profissional de cada um com tanto casei imunitas. Disse-lhe que eu não seria capaz de fazer um anúncio duma coisa que não gostasse, mas que de Actimel gostava muito e que ía estar com atenção para não perder o anúncio, e que ía dizer a toda a gente que o conheço!
E pronto, acabou a viagem. Boa sorte com o trabalho de noite. Boa sorte com o anúncio. Boa viagem menina [como gosto quando, ainda, me tratam por menina].
Portanto, já sabem, o próximo anúncio desta marca, que seja protagonizado por um taxista, é este meu taxista, a quem não perguntei o nome, mas cuja cara me lembro perfeitamente.Talvez o volte a encontrar nas ruas de Lisboa, para lhe dizer que estava muito bem na televisão, e que não tenho presssa nenhuma, que vá devagar e que me pode contar o seu dia...
Fotografias - Praça de táxis frente à Estação de Santa Apolónia. TINTA AZUL, 2007.
Fotografias - Praça de táxis frente à Estação de Santa Apolónia. TINTA AZUL, 2007.
1 comentário:
Essas estórias de taxistas são bem curiosas mesmo. Uns falam demais; outros, nem tanto.
Na maior parte das vezes, costumo ser lacônico [coisa que brasileiro não costuma ser], pois tenho cisma de conversar com estranhos. Mas sempre os deixo à vontade para falar sobre o que der na telha.
Convenhamos, no entanto, que essa conversa de taxista aí foi bem interessante. Atravessar o Tejo a nado é uma proesa e tanto, não?
Abraços.
Carlos
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