.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Que 2009 tenha dias bons! Grandes! Inteiros!
Fotografia - TINTA AZUL. 7.08.08
31/12/08
30/12/08
2008 - ALGUNS DIAS
.
[Clicar para ampliar]
Dias do meu CALENDIÁRIO - a cor nossa de cada dia nos dai hoje.
cinzentos. luminosos.
secos. alagados.
leves. duros.
doces. salgados.
poluídos. puros.
derrotados. gloriosos.
dias sim.dias não.
dias assim assim.
e...
2008 chega ao fim.
Time Lapse - Michael Nyman
Imagem - Fotografias. Colagem. TINTA AZUL. 2008
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Dias do meu CALENDIÁRIO - a cor nossa de cada dia nos dai hoje.
cinzentos. luminosos.
secos. alagados.
leves. duros.
doces. salgados.
poluídos. puros.
derrotados. gloriosos.
dias sim.dias não.
dias assim assim.
e...
2008 chega ao fim.
Time Lapse - Michael Nyman
Imagem - Fotografias. Colagem. TINTA AZUL. 2008
29/12/08
O SORRISO. LA SONRISA. LE SOURIRE. THE SMILE. DAS LÄCHELN
.
O SORRISO
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
LA SONRISA
Creo que fue la sonrisa,
la sonrisa fue quien abrió la puerta.
Era una sonrisa con mucha luz
dentro, y apetecia
entrar en ella, quitarse la ropa, quedarse
desnudo dentro de aquella sonrisa.
Correr, navergar, morir en aquella sonrisa.
LE SOURIRE
Je crois que ce fut le sourire,
le sourire, lui, qui ouvrit la porte.
C'était un sourire avec beaucoup de lumière
à l'ínterieur, il me plaisait
d'y entrer, de me dévêtir, de rester
nu à l'interieur de ce sourire.
Courir, naviguer, mourir dans ce sourire.
THE SMILE
I think it was the smile,
it was the smile who opened the door.
It was the smile with light, much light
inside, I longed to
enter it, take off my clothes, and stay,
naked there within that smile.
To run, to sail, to die within that smile.
DAS LÄCHELN
Ich glaube, das Lächeln war es,
das Lächeln öffnete die Tür.
Es war ein Lächeln mit viel Licht
darin, man hätte es
betreten mögen, sich ausziehen,
nackt in diesem Lächeln verweilen.
Laufen, segeln, sterben in diesem Lächeln.
Eugénio de Andrade
Para quem não sabe português.
Porque o sorriso é bonito em todas as línguas.
__Franz Liszt
Liebestraum por Evgeny Kissin
Fotografia - TINTA AZUL. 9.03.08
Música - YouTube
O SORRISO
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
LA SONRISA
Creo que fue la sonrisa,
la sonrisa fue quien abrió la puerta.
Era una sonrisa con mucha luz
dentro, y apetecia
entrar en ella, quitarse la ropa, quedarse
desnudo dentro de aquella sonrisa.
Correr, navergar, morir en aquella sonrisa.
LE SOURIRE
Je crois que ce fut le sourire,
le sourire, lui, qui ouvrit la porte.
C'était un sourire avec beaucoup de lumière
à l'ínterieur, il me plaisait
d'y entrer, de me dévêtir, de rester
nu à l'interieur de ce sourire.
Courir, naviguer, mourir dans ce sourire.
THE SMILE
I think it was the smile,
it was the smile who opened the door.
It was the smile with light, much light
inside, I longed to
enter it, take off my clothes, and stay,
naked there within that smile.
To run, to sail, to die within that smile.
DAS LÄCHELN
Ich glaube, das Lächeln war es,
das Lächeln öffnete die Tür.
Es war ein Lächeln mit viel Licht
darin, man hätte es
betreten mögen, sich ausziehen,
nackt in diesem Lächeln verweilen.
Laufen, segeln, sterben in diesem Lächeln.
Eugénio de Andrade
Para quem não sabe português.
Porque o sorriso é bonito em todas as línguas.
__Franz Liszt
Liebestraum por Evgeny Kissin
Fotografia - TINTA AZUL. 9.03.08
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NASCIDOS A 29 DE DEZEMBRO - SIQUEIROS. PABLO CASALS
ANO NOVO ?
.
Vem aí um ano novo.
Carregado de problemas velhos.
Vermelhos, alguns. Da cor do sangue.
__JS Bach
Ária na 4ª corda por Sarah Chang
Imagem - TINTA AZUL.Fotografia. Molas sobre tela vermelha. 26.12.08
Vem aí um ano novo.
Carregado de problemas velhos.
Vermelhos, alguns. Da cor do sangue.
__JS Bach
Ária na 4ª corda por Sarah Chang
Imagem - TINTA AZUL.Fotografia. Molas sobre tela vermelha. 26.12.08
28/12/08
POLI-VALENTE
.
De mãos ocupadas a despir árvores.
De Inverno.
__Erik Satie
Pièces Froides - Danses de travers nº 3
Fotografias - TINTA AZUL. 28.12.08
Música - YouTube
Uma ou outra folha, resiste, pendurada, nos corpos.
Despidos pelas mãos do Inverno.
Uma ou outra risca de azul, persiste, atravessada, no céu cinzento.
Pintado pelos pés do Inverno.
De mãos ocupadas a despir árvores.
De pés ocupados a pintar o céu.
Usou, também, a boca.
Para soprar um vento frio.
De Inverno.
__Erik Satie
Pièces Froides - Danses de travers nº 3
Fotografias - TINTA AZUL. 28.12.08
Música - YouTube
27/12/08
27 DE DEZEMBRO DE 1915
.
No dia em que o Pai fazia anos.
Uma fotografia antiga.
Eu com 6 anos, ele com 53.
No dia em que ele fazia 93 anos.
Eu com muitas saudades.
Ele sempre presente.
[como o lembrei aqui,
faz hoje 2 anos.]
Um beijo abraçado, Pai.
[Com a música de que tanto gosto.]
_F Schubert
Piano Trio [op. 100 - 2º andtº]
Piano - Eugene Istomin
Violino - Isaac Stern
Violoncelo - Leonard Rose
Música - YouTube
No dia em que o Pai fazia anos.
Uma fotografia antiga.
Eu com 6 anos, ele com 53.
No dia em que ele fazia 93 anos.
Eu com muitas saudades.
Ele sempre presente.
[como o lembrei aqui,
faz hoje 2 anos.]
Um beijo abraçado, Pai.
[Com a música de que tanto gosto.]
_F Schubert
Piano Trio [op. 100 - 2º andtº]
Piano - Eugene Istomin
Violino - Isaac Stern
Violoncelo - Leonard Rose
Música - YouTube
26/12/08
ENTRE A TARDE E A NOITE
25/12/08
TRISTEZA NO DESCANSO DO PAI-NATAL
.
[Clicar na imagem para ampliar]
Chegou exausto e transpirado. Lavou a roupa. Tomou banho.
Pendurou-se, também. É o seu modo preferido de descansar.
Apesar de ter trabalhado muito, sente-se triste.
Não conseguiu ir a todos os lugares onde há crianças.
Ficou muito aquem dos seus objectivos.
Diz de si para consigo que precisa urgentemente de ajuda.
Para chegar onde é preciso. Ao mundo inteiro.
Diz que sozinho é impossível.
Diz que agora é ele quem vai escrever cartas.
Muitas cartas. Até perceberem que não se pode adiar mais.
__A Piazzolla
Avé-Maria
Orquestra Sinfónica do Recife
Solista - Fabiano Menezes
Fotografia - Tinta Azul. 16.12.08.Trabalho realizado por alunos da Escola Básica da Régua. Em exposição na DREN.
Música - YouTube
[Clicar na imagem para ampliar]
Chegou exausto e transpirado. Lavou a roupa. Tomou banho.
Pendurou-se, também. É o seu modo preferido de descansar.
Apesar de ter trabalhado muito, sente-se triste.
Não conseguiu ir a todos os lugares onde há crianças.
Ficou muito aquem dos seus objectivos.
Diz de si para consigo que precisa urgentemente de ajuda.
Para chegar onde é preciso. Ao mundo inteiro.
Diz que sozinho é impossível.
Diz que agora é ele quem vai escrever cartas.
Muitas cartas. Até perceberem que não se pode adiar mais.
__A Piazzolla
Avé-Maria
Orquestra Sinfónica do Recife
Solista - Fabiano Menezes
Fotografia - Tinta Azul. 16.12.08.Trabalho realizado por alunos da Escola Básica da Régua. Em exposição na DREN.
Música - YouTube
UM MENINO JESUS. UM POEMA DE ADÉLIA PRADO [7]
.
Fotografia - TINTA AZUL. 19.12.08 [exposição de presépios feitos por crianças dos jardins de infância e escolas básicas da região norte]
CANTIGA DOS PASTORES
À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.
Achamos este menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?
Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.
Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
da nossa pobre riqueza:
a nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.
Os anjos cantavam hinos
cheios de vivos e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:
que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,
em que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?
Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!
Adélia Prado
[Suplemento Folhinha do
jornal Folha de S. Paulo, 25.12.99]
À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.
Achamos este menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?
Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.
Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
da nossa pobre riqueza:
a nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.
Os anjos cantavam hinos
cheios de vivos e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:
que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,
em que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?
Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!
Adélia Prado
[Suplemento Folhinha do
jornal Folha de S. Paulo, 25.12.99]
in Mensagens de Natal
em poesia e prosa
Edições Asa, 2003
Fotografia - TINTA AZUL. 19.12.08 [exposição de presépios feitos por crianças dos jardins de infância e escolas básicas da região norte]
24/12/08
SONHOS DE NATAL
23/12/08
PLAYING FOR CHANGE: SONG AROUND THE WORLD "STAND BY ME"
Chegou-me através do meu querido primo carioca com votos de Natal Feliz.
E eu, porque gostei muito, trouxe-o daqui para aqui ficar. Porque sim.
E agora tenho que ir tratar de vida, senão amanhã não me entendo na cozinha com tanta coisa para fazer.
E tenho que me entender, sobretudo nos sonhos, a minha especialidade, também, natalícia.
E eu, porque gostei muito, trouxe-o daqui para aqui ficar. Porque sim.
E agora tenho que ir tratar de vida, senão amanhã não me entendo na cozinha com tanta coisa para fazer.
E tenho que me entender, sobretudo nos sonhos, a minha especialidade, também, natalícia.
Com muito amor e carinho, a virarem-se sozinhos na frigideira, a rebentarem de prazer na fritura, que é assim que deve ser.
E como todos gostam deles!
Dos sonhos.
Bom Natal.
E como todos gostam deles!
Dos sonhos.
Bom Natal.
UM PRESÉPIO. UM POEMA DE NATÁLIA CORREIA [6]
.
Fotografia - TINTA AZUL. 17.12.08 [Exposição de presépios criados por crianças de Escolas Básicas e Jardins de Infância da Região Norte].
FALAVAM-LHE DE AMOR
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque de fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia
in Poesia Completa - O Sol nas Noites
e o Luar nos Dias
Ed. D. Quixote, 1999
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque de fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia
in Poesia Completa - O Sol nas Noites
e o Luar nos Dias
Ed. D. Quixote, 1999
Fotografia - TINTA AZUL. 17.12.08 [Exposição de presépios criados por crianças de Escolas Básicas e Jardins de Infância da Região Norte].
UM PRESÉPIO. UM POEMA DE JORGE DE SENA [5]
.
NATAL DE 1971
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta guerra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de amor? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
E torturados são
Na crença de que os homens
Devem estender-se a mão?
Jorge de Sena
In Poesia III, 1989
Edições 70, Lisboa
Fotografia - sobreposição. TINTA AZUL. 17.12.08
NATAL DE 1971
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta guerra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de amor? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
E torturados são
Na crença de que os homens
Devem estender-se a mão?
Jorge de Sena
In Poesia III, 1989
Edições 70, Lisboa
Fotografia - sobreposição. TINTA AZUL. 17.12.08
22/12/08
UM PRESÉPIO. UM POEMA DE ADOLFO SIMÕES MÜLLER [4]
.
A palavra mais bela
Fui ver ao dicionário de sinónimos
a palavra mais bela sem igual,
perfeita como a nave dos Jerónimos...
E o dicionário disse-me Natal.
Pergunto aos poetas que releio:
Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental,
Lorca, Olegário... e a resposta veio:
E é Christmas... Natividad... Noel... Natal!
Pedi ao vento e trouxe-me, dispersos,
- riscos de luz, fragmentos de papel -
cânticos, sinos, lágrimas e versos:
Um N, um A, um T, um A, um L...
Perguntei a mim próprio e fiquei mudo...
Qual a mais bela das palavras, qual?
Para quê perguntar se tudo, tudo,
diz Natal, diz Natal e diz Natal?!
Adolfo Simões Müller
in Moço, Bengala e Cão - Poemas, 1971,
Edição do Autor, Lisboa
Seja ou não, para os que aqui flutuam, a palavra mais bela, o meu desejo de que todos tenham um óptimo Natal.
Fotografia - TINTA AZUL.Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
A palavra mais bela
Fui ver ao dicionário de sinónimos
a palavra mais bela sem igual,
perfeita como a nave dos Jerónimos...
E o dicionário disse-me Natal.
Pergunto aos poetas que releio:
Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental,
Lorca, Olegário... e a resposta veio:
E é Christmas... Natividad... Noel... Natal!
Pedi ao vento e trouxe-me, dispersos,
- riscos de luz, fragmentos de papel -
cânticos, sinos, lágrimas e versos:
Um N, um A, um T, um A, um L...
Perguntei a mim próprio e fiquei mudo...
Qual a mais bela das palavras, qual?
Para quê perguntar se tudo, tudo,
diz Natal, diz Natal e diz Natal?!
Adolfo Simões Müller
in Moço, Bengala e Cão - Poemas, 1971,
Edição do Autor, Lisboa
Seja ou não, para os que aqui flutuam, a palavra mais bela, o meu desejo de que todos tenham um óptimo Natal.
UM PRESÉPIO. UM CONTO DE RUI ZINK [3]
.
Fotografia. Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
É quase meia-noite. Dores está ali, como os outros, há mais de 36 horas. Teriam sido já recambiados, se nesta quadra os voos não estivessem sempre cheios, com passageiros legítimos, que legitimamente vão visitar os paraísos exóticos de onde vêm os clandestinos.
Roupas coladas aos corpos há demasiadas horas. Ar gasto, recinto estreito, demasiada concentração de pulmões.
Quanta gente tentando entrar nos EUA, em plena véspera de Natal. Infelizmente isso é tolerável. Assim, embora os guardas sejam americanos, a zona do aeroporto em que se encontram os ilegais não o é.
Joe é largo como duas portas, e tão escuro quanto grande e gordo. Aceitou fazer este turno, hoje, porque se ele não se voluntariasse, estaria ali outro funcionário da imigração. Um com família, doença de que não padece Joe. Que mulher em pleno uso do seu bom senso casaria com um hamburguer ambulante?
Dores é açoriana. Supostamente, ia ter com o "marido". Uma história mal contada. Na verdade apenas tinha uma vaga promessa de que, na América, não lhe faltaria o que fazer - como mulher a dias, a guardar crianças, ou mesmo como cozinheira.
Dores é bonita? Vá lá saber-se. Por isso a surpreendem os olhares esquivos que, de vez em quando, lhe lança aquele gigante negro. Dores sabe que ele é o inimigo, que por causa dele, e de outros como ele, vai ter a vida de novo a voltar para trás.
Mas que mais mal lhe pode ele fazer? Porque a olha então assim?
Joe não quer olhar para ela. É pago para ser inflexível, e sempre o foi. De certo modo até é para bem dos clandestinos. Os empregos mal chegam para os que já lá estão.
Ele cora? Não, um preto não cora. Joe sabe isso. Dores também o devia saber.
Mas sim, diz-se Dores, ele cora. Quase dá vontade de rir, não dá?
Falta pouco para a meia-noite, constata Joe. Falta pouco para a meia-noite, e logo desta noite. Pobre gente. Ele bem que gostaria de ajudar. Mas como? Sei lá, pensa Joe, ao menos uma vez na vida. Ao menos hoje.
Mas quem?
Talvez aquela mulher.
Não, diz-se Joe, não posso pensar isso. É pecado. Sobretudo nesta noite é pecado.
Joe sabe que por fora é feio. E pergunta-se: também o serei por dentro?
Dores inquieta-se: mas por que raio não pára ele de olhar?
Joe faz contas: se ela casasse com um cidadão americano já poderia entrar. E depois diz-se: olha-te ao espelho, estúpido.
Mas não precisava de ser um casamento a sério. Bastava ser no papel.
Basta ser no papel.
Basta ser no papel. Basta ser no papel!
Esta ideia, e o aproximar da hora, levam-no a decidir-se. Uma boa acção de Natal. É isso. Nada mais do que isso.
Uma boa acção.
De Natal.
- Ustéd quier cassar con mygô?
Primeiro, Dores acha que não percebe.
Depois, fica horrorizada. Que nojo de homem é este? E olha-o nos olhos, com o desafio de que só uma mulher muito muito pequena é capaz, perante um homem muito muito grande. A aproveitar-se de eu ser fraca, pobre, infeliz?
Ele apenas a olha. E ela aí muda um pouco. E pensa: homens. Dores conhece-os, ai se conhece. Mas depois pensa: ao menos nesta noite, virgem santíssima, poderei confiar em alguém? E logo num homem?
- Óquei - diz. Uma das poucas palavras que conhece em americano.
Joe estremece. E repete a si próprio que não lhe tocará. É apenas um acto de amor, sim, mas de amor cristão, casto e puro, desinteressado. Uma boa acção.
Uma boa acção. Nada mais do que isso.
Consta que, nessa mesma noite, fizeram um Menino.
Rui Zink [Dezembro 1997]
in Vésperas de Natal
Edições D. Quixote, 2002
Fotografia. Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
21/12/08
UM PRESÉPIO - UM CONTO DE MANUEL ALEGRE [2]
.
Presépio dedicado à Addiragram
Fotografia - Tinta Azul. 19.12.08
Presépio dedicado à Addiragram
[clicar na imagem para ampliar - as figuras são de uma extrema simpicidade, mas de uma imensa ternura]
Gosto muitíssimo deste conto. Comovo-me sempre que o leio. Por várias razões. Como é longo, para blogues, nada mais acrescento. Espero que o leiam.
A Estrela
A minha avó Margarida
Gosto muitíssimo deste conto. Comovo-me sempre que o leio. Por várias razões. Como é longo, para blogues, nada mais acrescento. Espero que o leiam.
A Estrela
A minha avó Margarida
Todos os anos pelo Natal, eu ia a Belém. A viagem começava em Dezembro, no princípio das férias. Primeiro pela colheita do musgo, nos recantos mais húmidos do jardim. Cortava-se como um bolo, era bom sentir as grandes fatias despegarem-se da areia, dos muros ou dos troncos das árvores velhas, principalmente da ameixieira. Enchia-se a canastra devagar, enquanto a avó o que se chamaria hoje as estruturas, o umesmo infra-estruturas, junto da parede da sala de jantar que dava para o jardim. Eram caixotes, caixas de chapéus e de sapatos viradas do avesso, tábuas, que pouco a pouco ela ia cobrindo de musgo, ao mesmo tempo que fazia carreiros e caminhos com areia e areão. Mais tarde os rios e os lagos, com bocados de espelhos antigos, de vidros ou mesmo de travessas cheias de água. Até que todos os caixotes, caixas e tábuas desapareciam. Ficavam montanhas, planícies, rios, lagos. Era uma nova criação do mundo. Aqui e ali uma casinha ou um pastor com suas cabras. E todos os caminhos iam para Belém.
Não era como o presépio da Igreja que estava sempre todo pronto, mesmo antes de o Menino nascer. A cabana, a vaca, o burro, os três reis do Oriente. Maria, José, Jesus deitado nas palhinhas. Via-se logo que era a fingir. Não o da avó, que era mais do que um presépio, era uma peregrinação, uma jornada mágica ou, se quiserem, um milagre. Nós estávamos ali e não estávamos ali. De repente era a Judeia, passeávamos nas margens do Tineríades, aandávamos pelo Velho Testamento, João Baptista baptizava nas águas do Jordão e aquele monte, ao longe, podia ser o Sinai ou talvez o último lugar de onde Moisés, sem lá entrar, viu finalmente a terra onde corria o leite e o mel. Mas agora era o Novo Testamento. A avó ia buscar as figuras ao sótão, eram bonecos de barro comprados nas feiras, alguns mais antigos, de porcelana inglesa, como aquele caçador que a avó colovava à frente dizendo: Este é o pai. Seguia-se a mãe, de vestido comprido, dir-se-ia que ia para o baile, mas não, saía de cima de uma mesinha da sala de visitas e agora estava ao lado do pai, olhando levemente para trás onde, entretanto, a avó já tinha colocado figuras mais toscas, eu, a minha irmã, os primos, alguns amigos, todos a caminho de Belém.
- E a avó?, perguntava eu.
_Eu já estou velha para essas andanças.
De dia para dia mudávamos de lugar. E todas as manhãs deparávamos com novas casas, mais rebanhos, pastores, gente que descia das serras, atravessava os rios e os lagos. Os caminhos ficavam cada vez mais cheios. E todos iam para Belém. à noite tremulavam luzes. Acendiam e apagavam. mas ainda não se via a cabana, nem Maria, nem José.
Então uma noite, entre as estrelas do céu, aparecia uma que brilhava mais que todas.
-Esta é a estrela, dizia a avó.
E era a estrela que nos guiava. Na manhã seguinte lá estavam eles, os três reis do Oriente, Magos, explicava o pai, que também não dizia Pai Natal, dizia S. Nicolau, talvez por influência de uma misse russa que em puequeno lhe falava de renas e trenós e de S. Nicolau atravessando as estepes.
Cheirava a musgo na sala de jantar. Cheirava a musgo e a lenha molhada que secava em frente do fogão. E os Magos lá vinham, apé, de burro, de camelo. Traziam o oiro, o incenso, a mirra. às vezes nós, os mais pequenos, juntávamo-nos e cantávamos: "Os trÊs reis do Oriente/Já chegaram a Belém."
- Não chegaram nada, atalhava a avó, ainda não.
Estávamos cada vez mais perto. E também nervosos. Confesso que às vezes fazia batota. Empurrava-os um pouco mais para a frente, para mais perto de Belém e do lugar onde eu sabia que mais tarde ou mais cedo a avó ia pôr a cabana. mas ela descobria.
-Não lucras nada com isso, podes apressar toda a gente, não podes apressar o tempo.
Cada vez havia mais luzes a Judeia. Por vezes surgiam novos lagos, eram mistérios da minha avó. E a estrela lá estava, a grande estrela de prata que brilhava mais do que todas as outras, às vezes eu ia à janela e via a projecção daquela estrela, ficava confuso, já não sabia se era a estrela da sala ou uma estrela do céu, era uma estrela nova, uma estrela de prata, era uma estrela que nos guiava. No céu, na sala, na Judeia, talvez dentro de nós.
Até que chegava o primeiro dos grandes momentos solenes. A avó chamava-nos ao sótão [nós didizíamos forro], abria uma velha arca e desempacotava a cabana. Depois, muito comovida, quase sempre com lágrimas nos olhos, as figuras de Maria e José.
- Não há nada tão antigo nesta casa, já eram dos avós dos emus avós.
Impressionava-me sobretudo o manto muito azul de Maria e o rosto magro, quase assiutado, de José. A avó limpava-os com muito cuidado e mandava-nos sair. Nunca nos deixou ver o resto.
À noite, quando regressávamos da missa do galo, a que a avó não ia, chegávamos a casa e finalmente estávamos em Belém. A estrela brilhava intensamente sobre a cabana, Maria e José debruçavam-se sobre o berço, onde Jesus, todo rosado, deitado nas palhinhas, agitava os braços e as pernas, envolvido pelo bafo quente dos animais, enquanto os três reis do Oriente, agora sim, chegavam a Belém para depositar aos pés do Menino o oiro, o inccenso, a mirra. E vinham os pastores, e vinha o pai, de caçador, a mãe, de vestido de baile, e vínhamos nós, eu, a minha irmã, os primos, não éramos de porcelana nem de barro, estávamos ali em carne e osso, era noite de Natal, uma estrela nos guiava, brilhava sobre a Judeia e sobre o presépio, tínhamos chegado finalmente a Belém para adorar o Menino ao lado de Maria e José e dos três reis do Oriente, Magos, não conseguia deixar de corrigir o meu pai. Mas mágica, verdadeiramente mágica era a avó. Era ela que fazia o milagre da transfiguração, trazia o Natal para dentro de casa e levava-nos todos a té Belém. O cheiro a musgo e a lenha. Os montes, os vales, os rios, os lagos. Caminhos e caminhos que iam para Belém. E a estrela de prata, a estrela que nos guiava. Era uma estrela no céu, dentro de casa, dentro de nós. Pela mão da avó ela brilhava. Pela sua magia Belém estava dentro de casa. E a casa também ia até Belém.
Mais tarde, muito mais tarde, eu estava no exílio. Na noite de Natal os revolucionários ficavam tristes e nostálgicos. Talvez recordassem outras avós, outros presépios, outros lugares. Reuniam-se em casa deste ou daquele, improvisava-se uma árvore de Natal, trocavam-se presentes. Mas ninguém, nem mesmo os mais duros, os que faziam gala em dizer que o Natal para eles não significava nada, nem mesmo esses conseguiam disfarçar uma sombra no olhar. Saudade, dir-se-á. Mas talvez fosse mais do que saudade e solidão e o pior de todos os exílios que é o de se sentir estrangeiro no mundo. Talvez fosse a consciência de que, para lá de todas as crenças e não crenças, havia um irremediável sentimento de perda. Muitas vezes me perguntei o que seria. Mas não conseguia responder. Sentia o mesmo aperto, o mesmo buraco por dentro, o mesmo sentimento de algo para sempre eprdido.
Uma noite de Natal, em Paris, eu estava sozinho. Comprei uma garrafa de vinho do Porto, mas não fui capaz de bebê-la assim, completamente só, num quaro de criada, num sexto andar numa rua velha do Quartier Latin. Peguei na garrafa e fui até aos Halles. Procurei o bistrot onde costumava comer uma omolete de fiambre. Felizmente estava aberto. Pedi a omolete e abri a garrafa. Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo, um africano. Convidei-os para partilharem comigo a garrafa de Porto, que não resistiu muito tempo. Encomendámos outras bebidas.
- Conta uma história de Natal do teu país, pediu o velho.
- Só se for a do presépio da minha avó.
- Então conta.
Eu contei. Era já muito tarde e o patrão disse-nos que queria fechar. Chegados à rua, o africano apontou para o céu e disse: Olha.
E eu vi. Uma estrela que brilhava mais que as outras estrelas. Era uma estrela de prata. A estrela da avó. Brilhava no céu, brilhava outra vez dentro de mim, quase posso jurar que brilhava dentro dos outros três.
Então eu perguntei ao africano como se chamava. E ele respondeu:
Baltazar.
Perguntei ao velho e ele disse:
- Melchior.
E sem que sequer eu lhe perguntasse o eslavo disse:
- O meu nome é Gaspar.
Era noite de Natal e talvez ainda por magia da avó eu estava na rua, em Les Halles, com os três reis do Oriente, Magos, diria o meu pai.
- E agora? perguntei a Baltazar.
- Agora, respondeu o africano apontando a estrela, agora vamos para Belém.
Manuel Alegre [Lisboa, 3.10.2000]
in Vésperas de Natal
Edições D. Quixote, 2002
Stille Nacht por Nana Mouskouri
Não era como o presépio da Igreja que estava sempre todo pronto, mesmo antes de o Menino nascer. A cabana, a vaca, o burro, os três reis do Oriente. Maria, José, Jesus deitado nas palhinhas. Via-se logo que era a fingir. Não o da avó, que era mais do que um presépio, era uma peregrinação, uma jornada mágica ou, se quiserem, um milagre. Nós estávamos ali e não estávamos ali. De repente era a Judeia, passeávamos nas margens do Tineríades, aandávamos pelo Velho Testamento, João Baptista baptizava nas águas do Jordão e aquele monte, ao longe, podia ser o Sinai ou talvez o último lugar de onde Moisés, sem lá entrar, viu finalmente a terra onde corria o leite e o mel. Mas agora era o Novo Testamento. A avó ia buscar as figuras ao sótão, eram bonecos de barro comprados nas feiras, alguns mais antigos, de porcelana inglesa, como aquele caçador que a avó colovava à frente dizendo: Este é o pai. Seguia-se a mãe, de vestido comprido, dir-se-ia que ia para o baile, mas não, saía de cima de uma mesinha da sala de visitas e agora estava ao lado do pai, olhando levemente para trás onde, entretanto, a avó já tinha colocado figuras mais toscas, eu, a minha irmã, os primos, alguns amigos, todos a caminho de Belém.
- E a avó?, perguntava eu.
_Eu já estou velha para essas andanças.
De dia para dia mudávamos de lugar. E todas as manhãs deparávamos com novas casas, mais rebanhos, pastores, gente que descia das serras, atravessava os rios e os lagos. Os caminhos ficavam cada vez mais cheios. E todos iam para Belém. à noite tremulavam luzes. Acendiam e apagavam. mas ainda não se via a cabana, nem Maria, nem José.
Então uma noite, entre as estrelas do céu, aparecia uma que brilhava mais que todas.
-Esta é a estrela, dizia a avó.
E era a estrela que nos guiava. Na manhã seguinte lá estavam eles, os três reis do Oriente, Magos, explicava o pai, que também não dizia Pai Natal, dizia S. Nicolau, talvez por influência de uma misse russa que em puequeno lhe falava de renas e trenós e de S. Nicolau atravessando as estepes.
Cheirava a musgo na sala de jantar. Cheirava a musgo e a lenha molhada que secava em frente do fogão. E os Magos lá vinham, apé, de burro, de camelo. Traziam o oiro, o incenso, a mirra. às vezes nós, os mais pequenos, juntávamo-nos e cantávamos: "Os trÊs reis do Oriente/Já chegaram a Belém."
- Não chegaram nada, atalhava a avó, ainda não.
Estávamos cada vez mais perto. E também nervosos. Confesso que às vezes fazia batota. Empurrava-os um pouco mais para a frente, para mais perto de Belém e do lugar onde eu sabia que mais tarde ou mais cedo a avó ia pôr a cabana. mas ela descobria.
-Não lucras nada com isso, podes apressar toda a gente, não podes apressar o tempo.
Cada vez havia mais luzes a Judeia. Por vezes surgiam novos lagos, eram mistérios da minha avó. E a estrela lá estava, a grande estrela de prata que brilhava mais do que todas as outras, às vezes eu ia à janela e via a projecção daquela estrela, ficava confuso, já não sabia se era a estrela da sala ou uma estrela do céu, era uma estrela nova, uma estrela de prata, era uma estrela que nos guiava. No céu, na sala, na Judeia, talvez dentro de nós.
Até que chegava o primeiro dos grandes momentos solenes. A avó chamava-nos ao sótão [nós didizíamos forro], abria uma velha arca e desempacotava a cabana. Depois, muito comovida, quase sempre com lágrimas nos olhos, as figuras de Maria e José.
- Não há nada tão antigo nesta casa, já eram dos avós dos emus avós.
Impressionava-me sobretudo o manto muito azul de Maria e o rosto magro, quase assiutado, de José. A avó limpava-os com muito cuidado e mandava-nos sair. Nunca nos deixou ver o resto.
À noite, quando regressávamos da missa do galo, a que a avó não ia, chegávamos a casa e finalmente estávamos em Belém. A estrela brilhava intensamente sobre a cabana, Maria e José debruçavam-se sobre o berço, onde Jesus, todo rosado, deitado nas palhinhas, agitava os braços e as pernas, envolvido pelo bafo quente dos animais, enquanto os três reis do Oriente, agora sim, chegavam a Belém para depositar aos pés do Menino o oiro, o inccenso, a mirra. E vinham os pastores, e vinha o pai, de caçador, a mãe, de vestido de baile, e vínhamos nós, eu, a minha irmã, os primos, não éramos de porcelana nem de barro, estávamos ali em carne e osso, era noite de Natal, uma estrela nos guiava, brilhava sobre a Judeia e sobre o presépio, tínhamos chegado finalmente a Belém para adorar o Menino ao lado de Maria e José e dos três reis do Oriente, Magos, não conseguia deixar de corrigir o meu pai. Mas mágica, verdadeiramente mágica era a avó. Era ela que fazia o milagre da transfiguração, trazia o Natal para dentro de casa e levava-nos todos a té Belém. O cheiro a musgo e a lenha. Os montes, os vales, os rios, os lagos. Caminhos e caminhos que iam para Belém. E a estrela de prata, a estrela que nos guiava. Era uma estrela no céu, dentro de casa, dentro de nós. Pela mão da avó ela brilhava. Pela sua magia Belém estava dentro de casa. E a casa também ia até Belém.
Mais tarde, muito mais tarde, eu estava no exílio. Na noite de Natal os revolucionários ficavam tristes e nostálgicos. Talvez recordassem outras avós, outros presépios, outros lugares. Reuniam-se em casa deste ou daquele, improvisava-se uma árvore de Natal, trocavam-se presentes. Mas ninguém, nem mesmo os mais duros, os que faziam gala em dizer que o Natal para eles não significava nada, nem mesmo esses conseguiam disfarçar uma sombra no olhar. Saudade, dir-se-á. Mas talvez fosse mais do que saudade e solidão e o pior de todos os exílios que é o de se sentir estrangeiro no mundo. Talvez fosse a consciência de que, para lá de todas as crenças e não crenças, havia um irremediável sentimento de perda. Muitas vezes me perguntei o que seria. Mas não conseguia responder. Sentia o mesmo aperto, o mesmo buraco por dentro, o mesmo sentimento de algo para sempre eprdido.
Uma noite de Natal, em Paris, eu estava sozinho. Comprei uma garrafa de vinho do Porto, mas não fui capaz de bebê-la assim, completamente só, num quaro de criada, num sexto andar numa rua velha do Quartier Latin. Peguei na garrafa e fui até aos Halles. Procurei o bistrot onde costumava comer uma omolete de fiambre. Felizmente estava aberto. Pedi a omolete e abri a garrafa. Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo, um africano. Convidei-os para partilharem comigo a garrafa de Porto, que não resistiu muito tempo. Encomendámos outras bebidas.
- Conta uma história de Natal do teu país, pediu o velho.
- Só se for a do presépio da minha avó.
- Então conta.
Eu contei. Era já muito tarde e o patrão disse-nos que queria fechar. Chegados à rua, o africano apontou para o céu e disse: Olha.
E eu vi. Uma estrela que brilhava mais que as outras estrelas. Era uma estrela de prata. A estrela da avó. Brilhava no céu, brilhava outra vez dentro de mim, quase posso jurar que brilhava dentro dos outros três.
Então eu perguntei ao africano como se chamava. E ele respondeu:
Baltazar.
Perguntei ao velho e ele disse:
- Melchior.
E sem que sequer eu lhe perguntasse o eslavo disse:
- O meu nome é Gaspar.
Era noite de Natal e talvez ainda por magia da avó eu estava na rua, em Les Halles, com os três reis do Oriente, Magos, diria o meu pai.
- E agora? perguntei a Baltazar.
- Agora, respondeu o africano apontando a estrela, agora vamos para Belém.
Manuel Alegre [Lisboa, 3.10.2000]
in Vésperas de Natal
Edições D. Quixote, 2002
Stille Nacht por Nana Mouskouri
Fotografia - Tinta Azul. 19.12.08
UM PRESÉPIO. UM POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA[1]
.
Fotografia - TINTA AZUL.Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
natal, e não dezembro
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
in Cancioneiro de Natal
Edições Rolim,1986
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
in Cancioneiro de Natal
Edições Rolim,1986
Fotografia - TINTA AZUL.Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
20/12/08
A MINHA PEQUENA IMPROVISADA ÁRVORE DE NATAL
.
Fotografia. TINTA AZUL. 14.12.08
Este ano, ainda, nem fiz a Árvore de Natal. Nem das outras decorações tratei. Nem sei se não tive tempo. Ou se foi do tempo.
A criança já cresceu. Já não se interessa por estas coisas. Foi passar uns dias com os amigos. Que é coisa bem mais importante do que ficar em casa a pôr bolinha aqui, bolinha ali, bolinha acolá. Coisa de que ainda não há muito tempo gostava tanto.
Por isso, estando o Natal mesmo, mesmo à porta, peguei num punhado de rebuçados - embrulhados em celofane vermelho com letras brancas a dizer flocos de neve mais a marca, que agora não digo - pousei-os em cima duma pulseira - de que gosto muito - e enrosquei-lhe um colar - daqueles que fazia há mais de 20 anos atrás, com berloques de massa fimo, enfiados em cordões, de couro, usados nos sapatos, bem encerados -, e pronto.
Tenho a minha pequena, muito pequena, árvore de Natal, que cabe muito bem dentro de casa, sempre atravancada, das tantas coisas que cada um dos que nela vive vai amontoando por todo o lado cada dia que passa. E gosto dela. E vai ficar, mesmo quando a outra, a do costume, com mais ou menos variações, estiver pronta.
E fica aqui, também, onde há-de ter as companhias que se seguiram após o amontoar de outras quinquilharias, que raramente uso, mas que guardo, porque, ou, gosto delas, já gostei, fui eu quem as fez, alguém de quem gosto mas ofereceu.
E não revejo nem as vírgulas nem mais nada porque chegaram os meus sobrinhos e agora é isso que importa. Porque o Natal são as pessoas e o modo como são [se dão] umas para as outras.
Fotografia. TINTA AZUL. 14.12.08
ANJOS [1]
.
Gosto de anjos,
dos que guardam
e são guardados.
Nem me importa que não sejam [visivelmente] alados.
[como já tinha dito aqui, a propósito de outros anjos]
Milonga del Angel ______Astor Piazzolla
Fotografia -Tinta Azul. Exposição de presépios e árvores de Natal feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
Música - YouTube
Gosto de anjos,
dos que guardam
e são guardados.
Nem me importa que não sejam [visivelmente] alados.
[como já tinha dito aqui, a propósito de outros anjos]
Milonga del Angel ______Astor Piazzolla
Fotografia -Tinta Azul. Exposição de presépios e árvores de Natal feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
Música - YouTube
19/12/08
NASCIDOS A 19 DE DEZEMBRO
.
Mulher sentada
Vicente Rego Monteiro
Mesa dos sonhos
Ao lado do homem vou crescendo
Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente
Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo
E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.
Alexandre O'Neill
Também há palavras que nos beijam e amigo, entre os meus preferidos, de A O'Neill.
Mulher sentada
Vicente Rego Monteiro
Mesa dos sonhos
Ao lado do homem vou crescendo
Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente
Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo
E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.
Alexandre O'Neill
Também há palavras que nos beijam e amigo, entre os meus preferidos, de A O'Neill.
REIS MAGOS [4]
.
Mais três reis
que parecem
Magas, elegantes, Rainhas.
[Sem luxos nem rendinhas.]
__Händel
Messias [2]
Orquestra e Coro - Academy of St Martin in the Fields
Direcção - Sir Neville Marriner
Fotografias - Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
Música - YouTube
Mais três reis
que parecem
Magas, elegantes, Rainhas.
[Sem luxos nem rendinhas.]
__Händel
Messias [2]
Orquestra e Coro - Academy of St Martin in the Fields
Direcção - Sir Neville Marriner
Fotografias - Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.19.12.08
Música - YouTube
18/12/08
REIS MAGOS [3]
.
Mais uma vez.
___Händel
Messias [1]
___Händel
Messias [1]
Orquestra e Coro - Academy of St Martin in the Fields
Direcção - Sir Neville Marriner
Direcção - Sir Neville Marriner
Fotografias - Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.17.12.08
Música - YouYube
17/12/08
REIS MAGOS [2]
.
Anda Belchior,
Vamos, Baltasar?
Sim, Gaspar.
[Estes três souberam que ontem vieram três. Também quiseram vir. Passaram palavra. Amanhã, outros três quererão vir. Sendo sempre os mesmos três.
Depois, hão-de vir os nomes dos Jardins de Infância e Escolas Básicas onde se fizeram tantos reis.]
_Händel
Messias - Amen
Anda Belchior,
Vamos, Baltasar?
Sim, Gaspar.
[Estes três souberam que ontem vieram três. Também quiseram vir. Passaram palavra. Amanhã, outros três quererão vir. Sendo sempre os mesmos três.
Depois, hão-de vir os nomes dos Jardins de Infância e Escolas Básicas onde se fizeram tantos reis.]
_Händel
Messias - Amen
Orquestra e Coro - Academy of St Martin in the Fields
Direcção - Sir Neville Marriner
Fotografias - Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.17.12.08
Música - YouTube
Fotografias - Tinta Azul. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.17.12.08
Música - YouTube
16/12/08
BALTASAR, BELCHIOR E GASPAR. PRESENTES.
.
Baltasar
Belchior
Gaspar
Em homenagem à sábia decisão do Excelentíssimo Júri do Concurso Baltasar 2008, d 'A Barbearia do Sr Luís, o meu presente de Natal para o promotor do concurso, o distinto Sr Luís da Barbearia, e para todos os participantes:
Os três Reis Magos, que o Baltasar não gosta de andar sózinho, carregadinhos de desejos. Dos desejáveis. Dos bons.
Baltasar
Belchior
Gaspar
Em homenagem à sábia decisão do Excelentíssimo Júri do Concurso Baltasar 2008, d 'A Barbearia do Sr Luís, o meu presente de Natal para o promotor do concurso, o distinto Sr Luís da Barbearia, e para todos os participantes:
Os três Reis Magos, que o Baltasar não gosta de andar sózinho, carregadinhos de desejos. Dos desejáveis. Dos bons.
__Sinéad O'Connor
Silent Night
Fotografias - TINTA AZUL. Exposição de presépios feitos por crianças de JI e EB da Região Norte.16.12.08
Música - Youtube
NASCIDOS A 16 DE DEZEMBRO
.
Fuga
Kandinsky
OLHA-ME
Olha-me! O teu olhar sereno e brando
Entra-me o peito, como um largo rio
De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando
O ermo de um bosque tenebroso e frio.
Fala-me! Em grupos doudejantes, quando
Falas, por noites cálidas de estio,
As estrelas acendem-se, radiando,
Altas, semeadas pelo céu sombrio.
Olha-me assim! Fala-me assim! De pranto
Agora, agora de ternura cheia,
Abre em chispas de fogo essa pupila...
E enquanto eu ardo em sua luz, enquanto
Em seu fulgor me abraso, uma sereia
Soluce e cante nessa voz tranqüila!
Olavo Bilac
_ Beethoven
Sinfonia nº 5 - [1º andtº]
Orquestra Filarmónica de Berlim
Direcção - Daniel Barenboim
Fuga
Kandinsky
OLHA-ME
Olha-me! O teu olhar sereno e brando
Entra-me o peito, como um largo rio
De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando
O ermo de um bosque tenebroso e frio.
Fala-me! Em grupos doudejantes, quando
Falas, por noites cálidas de estio,
As estrelas acendem-se, radiando,
Altas, semeadas pelo céu sombrio.
Olha-me assim! Fala-me assim! De pranto
Agora, agora de ternura cheia,
Abre em chispas de fogo essa pupila...
E enquanto eu ardo em sua luz, enquanto
Em seu fulgor me abraso, uma sereia
Soluce e cante nessa voz tranqüila!
Olavo Bilac
_ Beethoven
Sinfonia nº 5 - [1º andtº]
Orquestra Filarmónica de Berlim
Direcção - Daniel Barenboim
15/12/08
OSCAR NIEMEYER FAZ HOJE 101 ANOS
.
[...] estou convencido que um arquiteto não deve se limitar à aprendizagem de seu métier. Ele deve ter uma cultura geral, ler os clássicos, os escritores contemporâneos, para melhor compreender seu ambiente cultural. [...] eu sempre pensei que um arquiteto de talento deve saber desenhar e escrever. Ele não poderá fazer nada de grande ou de belo se não possuir essas duas qualidades. A terceira é a imagem; logo, a negação de regras. Oscar Niemeyer
No dia em que Oscar Niemeyer faz 101 anos, a memória de um dia fabuloso que começou no Rio de Janeiro passando por Niteroi, Camboinhas e muitos outros lugares belíssimos.
Entre as memórias deste dia consta, também, um pequeno-grande episódio de contornos peculiares, relativo a um acidente à saída do Rio, que dava muito que contar e por isso fica para outra vez, se calhar.
Apesar de já ter visto o Edifício do Museu de Arte Contemporânea em várias fotografias, quando cheguei perto, revelou-se-me uma extraordinária surpresa. Beleza, elegância e arrojo. Foram estas as palavras que me vieram, instantâneas, ao pensamento. Contemplei-o de todos os ângulos que pude. As famosas curvas. O famoso vermelho. Que bem combina com o branco e a cor do mar. Encantei-me. Encantada, fotografava, fotografava.
__Heitor Villa-Lobos
Prelúdio nº2 por John Williams
[...] estou convencido que um arquiteto não deve se limitar à aprendizagem de seu métier. Ele deve ter uma cultura geral, ler os clássicos, os escritores contemporâneos, para melhor compreender seu ambiente cultural. [...] eu sempre pensei que um arquiteto de talento deve saber desenhar e escrever. Ele não poderá fazer nada de grande ou de belo se não possuir essas duas qualidades. A terceira é a imagem; logo, a negação de regras. Oscar Niemeyer
No dia em que Oscar Niemeyer faz 101 anos, a memória de um dia fabuloso que começou no Rio de Janeiro passando por Niteroi, Camboinhas e muitos outros lugares belíssimos.
Entre as memórias deste dia consta, também, um pequeno-grande episódio de contornos peculiares, relativo a um acidente à saída do Rio, que dava muito que contar e por isso fica para outra vez, se calhar.
Apesar de já ter visto o Edifício do Museu de Arte Contemporânea em várias fotografias, quando cheguei perto, revelou-se-me uma extraordinária surpresa. Beleza, elegância e arrojo. Foram estas as palavras que me vieram, instantâneas, ao pensamento. Contemplei-o de todos os ângulos que pude. As famosas curvas. O famoso vermelho. Que bem combina com o branco e a cor do mar. Encantei-me. Encantada, fotografava, fotografava.
Ficam quatro olhares, dos muitos, que trouxe do MAC de Niteroi. Uma fantástica obra de arquitectura de Oscar Niemeyer.
__Heitor Villa-Lobos
Prelúdio nº2 por John Williams
Fotografias - TINTA AZUL. 24.08.08
Música - YouTube
14/12/08
COM TOM E SOM
.
o sopro, quente, dos sons
tons de azul do céu no chão
no sopro frio do Inverno nos dias.
______Jan Garbarek Group
Imagem - Fotografia com filtro. TINTA AZUL. 6.12.08
Música - YouTube
o sopro, quente, dos sons
tons de azul do céu no chão
no sopro frio do Inverno nos dias.
______Jan Garbarek Group
Imagem - Fotografia com filtro. TINTA AZUL. 6.12.08
Música - YouTube
PARABÉNS JOÃO
13/12/08
NASCIDOS A 13 DE DEZEMBRO
.
Lligat
[técnica mista sobre madeira]
Antoni Tàpies
Heus aquí el cos
[técnica mista sobre madeira]
Antoni Tàpies
Edifício da Fundação Antoni Tàpies,
da autoria do Arqº Lluís Domènech i Montaner,
Lligat
[técnica mista sobre madeira]
Antoni Tàpies
Heus aquí el cos
[técnica mista sobre madeira]
Antoni Tàpies
Edifício da Fundação Antoni Tàpies,
da autoria do Arqº Lluís Domènech i Montaner,
[brevemente a festejar os anos aqui]
com uma escultura de Antoni Tàpies no topo.
Porque já fui feliz em Barcelona
Porque já fui feliz em Barcelona
[e digo assim porque não encontro melhores palavras para dizer].
Porque Antoni Tapiès faz hoje anos,
Porque Antoni Tapiès faz hoje anos,
e gosto de muitas das suas obras.
Porque, às vezes, gosto de ouvir música flamenca
Porque, às vezes, gosto de ouvir música flamenca
e Carlos Montoya [1903-1993], também, fazia anos hoje.
PARA HOJE
.
Para hoje
É preciso ficar, aqui, entre os destroços,
E cinzelar a pedra e recompor a flor.
É preciso lançar no vazio dos ossos
A semente do amor
É preciso ficar, aqui, entre os caídos,
E desmontar o medo e construir o pão.
É preciso expulsar dos cegos dias idos
A insónia da prisão.
É preciso ficar, aqui, entre os escombros,
E libertar a pomba e partilhar a luz.
É preciso arrastar, pausa a pausa, nos ombros,
A ascensão de uma cruz.
É preciso ficar, aqui, entre as ruínas,
E aferir a balança e tecer linho e lã.
É preciso o jardim a envolver as oficinas:
É preciso amanhã.
António Manuel Couto Viana
in Memória Dividida
Coordenação Francisco José Viegas
Selecção Pedro Mexia
___G Mahler
Sinfonia nº 6 [final]
Lucerne Festival Orchestra
Direcção - Claudio Abbado
Música - YouTube
Imagens - 1.Fotografia. 2.3.4. Fotografias manipuladas. TINTA AZUL. 23.11.08
Para hoje
É preciso ficar, aqui, entre os destroços,
E cinzelar a pedra e recompor a flor.
É preciso lançar no vazio dos ossos
A semente do amor
É preciso ficar, aqui, entre os caídos,
E desmontar o medo e construir o pão.
É preciso expulsar dos cegos dias idos
A insónia da prisão.
É preciso ficar, aqui, entre os escombros,
E libertar a pomba e partilhar a luz.
É preciso arrastar, pausa a pausa, nos ombros,
A ascensão de uma cruz.
É preciso ficar, aqui, entre as ruínas,
E aferir a balança e tecer linho e lã.
É preciso o jardim a envolver as oficinas:
É preciso amanhã.
António Manuel Couto Viana
in Memória Dividida
Coordenação Francisco José Viegas
Selecção Pedro Mexia
___G Mahler
Sinfonia nº 6 [final]
Lucerne Festival Orchestra
Direcção - Claudio Abbado
Música - YouTube
Imagens - 1.Fotografia. 2.3.4. Fotografias manipuladas. TINTA AZUL. 23.11.08
CONCURSO BALTASAR
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Aqui fica a evidência da minha participação - um tanto ao quanto heterodoxa - no concurso BALTASAR, promovido pel' A Barbearia do Senhor Luís, cujo Magnífico Júri teve a amabilidade de aceitar, mesmo não cumprindo integralmente os requisitos exigidos.
Não sendo Rei, o famoso Juiz,
tem muchas ganas de reinar
na justiça do mundo, Sr Luís,
e no concurso do Baltasar.
Aqui fica a evidência da minha participação - um tanto ao quanto heterodoxa - no concurso BALTASAR, promovido pel' A Barbearia do Senhor Luís, cujo Magnífico Júri teve a amabilidade de aceitar, mesmo não cumprindo integralmente os requisitos exigidos.
Não sendo Rei, o famoso Juiz,
tem muchas ganas de reinar
na justiça do mundo, Sr Luís,
e no concurso do Baltasar.
Imagem - retirada - algures - da net... e modificada
11/12/08
CIDADES
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...cidade
Quando as veias e as artérias são avenidas, ruas e becos,
quando o sangue e a linfa são pessoas,
quando o emaranhado em teia é um sentido perfeito,
quando as vísceras são obra de arte de uma singular complexidade,
quando a alma é clara e plural,
quando o corpo é de todos e de ninguém,
então...
...então é uma Cidade!
MNN
in Carruagem de Metro
Corpus Editora, 2007
Quando as veias e as artérias são avenidas, ruas e becos,
quando o sangue e a linfa são pessoas,
quando o emaranhado em teia é um sentido perfeito,
quando as vísceras são obra de arte de uma singular complexidade,
quando a alma é clara e plural,
quando o corpo é de todos e de ninguém,
então...
...então é uma Cidade!
MNN
in Carruagem de Metro
Corpus Editora, 2007
__Rodrigo Leão
As cidades
E eu aprendi a gostar das cidades.
Da cidade física e mental.
Enquanto espaço e tempo de cidadania.
Imagem - A partir de fotografias. TINTA AZUL. 25.09.08
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