Quando, às vezes, me crescem no peito palavras lascadas, procuro outras. Mais dentro de mim. Palavras polidas. Depois rezo-as. Como se fosse uma oração:
Libera me
Livrai-me, Senhor, De tudo o que for Vazio de amor.
Que nunca me espere Quem bem me não quer [Homem ou mulher].
Livrai-me também De quem me detém E graça não tem,
E mais de quem não Possui nem um grão De imaginação.
Carlos Queirós[1907-1949]
__Rodrigo Leão Outra Gente Rodrigo Leão e Cinema Ensembe
Certos comprimentos de onda e frequências da cor tornam muito agradável a percepção dos dias. É desses que gosto. Mesmo que a amplitude térmica seja muito acentuada. Mesmo que não haja Youkali. São esses dias que guardo. - Efémeros Youkalis - Em ondas suaves. Frequentes.
_Kurt Weil Youkali:Tango Habanera Letra - Roger Fernay canta - Ute Lemper
Imagem - a partir de fotografias. TINTA AZUL. 27.04.09 Música - YouTube.khankonchak
Aluaflutua foi distinguido, pelo interessante blog Friol, com o prémio Olha que blog Maneiro. Faz parte das regras deste prémio, entre outras, a nomeação de 10 blogues maneiros. Como isso me iria causar uma grande dor de cabeça, pois teria dificuldade em escolher apenas 10, entre os muitos que considero maneiros, não me agrada cumpri-la.
Dedico-o, assim, a todos os maneiros que visitam regularmente aluaflutua, agradecendo mais uma vez ao blog Friol,
com um ramo de flores silvestres e a música de Emilio Cao de que gosto muito.
Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortências se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas efeicazes contra a arbitrariedade das floristas, a extinção pura e simples das estufas.
Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelícias. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuentes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.
Jorge de Sousa Braga
in A poesia está na rua 25º aniversário do 25 de Abril INATEL Assoc. dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto
O ano passado lembrei aqui o Dia Internacional da Terra e o Dia Nacional do Património Geológico, assime assim,[discurso do Ministro Brasileiro da Educação, Cristovam Buarque, nos EUA - 2001]
Este ano foi ao visitar oSarrabiscos que me lembrei.
Deixo para assinalar este dia, neste ano, uma música de que gosto numa versão de que gosto muitíssimo.
Um sinal do Maio acalma a tempestade. Muitas vezes nem espera um pedido de socorro. Mesmo enquanto dorme mantém um olho aberto. Não vá o tempo mudar e levar consigo algum pescador, mais descuidado. Outras vezes, quantas, se o vento vira, se as ondas se revoltam, lá está o Maio vigilante, olhar posto no horizonte, a mão em pala, para ver até mais não alcançarem os seus olhos. Se, lá longe, avista um barco desnorteado, remos ao ombro, enfrenta o mar às cegas, cego pelo mar, cego do mar, cego para roubar ao mar mais um náufrago, ou dois, ou os que puder. Mas, quem como Cego do Maio desafiou o mar? Já mais velho, continua a rasgar águas traiçoeiras, com a ajuda dos filhos, a quem pragueja: - Barco à água! Mãos aos remos! Remai que se faz tarde! E parte à deriva, sem medo. Sempre sem medo. Maio de pé, no barco, para não perder os companheiros de vista. A Senhora, porém, sempre ao seu lado: - Sinhora dos Aflitos, valei-me! implora.
in Cego do Maio -Anjo da Salvação de Maria Manuela Costa
com ilustrações de Francisco Cunha Lendas de Portugal Ilustradas
Lábios de espuma
a rebentar
na enorme boca do mar
explode a onda
rebenta a dor
se, faminta, engole barco e pescador.
Porque amanhã vou à Póvoa de Varzim.
Porque foi lá, não há muito tempo, que me encontrei com o Cego do Maio, e O Poveiro através dos livros que gentilmente me ofereceram.
T'Chemo - Barbara Furtuna
Imagens - Fotografias. TINTA AZUL. 15.01.09. 1. retrato, óleo s/tela [não sei quem é o autor], do Cego do Maio. 2. Mar da Póvoa de Varzim. Música - YouTube.aluaflutua.
Um presente para aluaflutua do Miroslav B. Dušanić a quem agradeço, em português, com:
_Um Homem na Cidade as palavras de José Carlos Ary dos Santos a voz deCarlos do Carmo a guitarra portuguesa deAntónio Chainho a viola deJosé Manuel da Nóbrega e a música deJosé Luís Tinoco.
Um Homem na Cidade
Agarro a madrugada como se fosse uma criança, uma roseira entrelaçada, uma videira de esperança. Tal qual o corpo da cidade que manhã cedo ensaia a dança de quem, por força da vontade, de trabalhar nunca se cansa. Vou pela rua desta lua que no meu Tejo acendo cedo, vou por Lisboa, maré nua que desagua no Rossio. Eu sou o homem da cidade que manhã cedo acorda e canta, e, por amar a liberdade, com a cidade se levanta. Vou pela estrada deslumbrada da lua cheia de Lisboa até que a lua apaixonada cresce na vela da canoa. Sou a gaivota que derrota tudo o mau tempo no mar alto. Eu sou o homem que transporta a maré povo em sobressalto. E quando agarro a madrugada, colho a manhã como uma flor à beira mágoa desfolhada, um malmequer azul na cor, o malmequer da liberdade que bem me quer como ninguém, o malmequer desta cidade que me quer bem, que me quer bem. Nas minhas mãos a madrugada abriu a flor de Abril também, a flor sem medo perfumada com o aroma que o mar tem, flor de Lisboa bem amada que mal me quis, que me quer bem.
Numa manhã de Agosto de 2005 descobri a obra deste fabuloso escultor no Frognerparkenem Oslo. Deliciei-me a admirar as suas extraordinárias esculturas, mais de 200 - em granito, bronze e ferro forjado -, no belíssimo Parque [onde se destaca o Monolito com os seus 14 m de altura] que ele próprio idealizou e ao qual dedicou grande parte da sua vida.
O Douro, muito azul, entre muitos tons de verde e outras cores. Entre Resende e Baião. Muitos tons de verde e outras cores entre cumes salpicados de branco. Entre Montemuro e Marão. Cumes salpicados de branco coroados de nuvens fartas. Negras e brancas. Negras e brancas. Entre tantos matizes de cinzento.
Entre tantos olhares de outros tantos tons. Entre tantos sentires de outros tantos matizes. Entre tempos. Outros. Estes. Entre abraços. E saudades. Entre mãe e filhas. Tios e sobrinhas. Primos e primas.
Numa Sexta-feira. Santa. Apesar do frio e de alguma chuva.