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LIVRO DE HORAS
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
Miguel Torga (1907-1995)
Poesia Completa, Lisboa, Dom QUixote, 2000.
Imagem - Fotografia. TINTA AZUL. 24.07.08
11/09/08
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5 comentários:
Uma flor...
... das que eu mais gosto.
Bonita homenagem, a das palavras, também.
[Beijo...]
muito bonito o teu post!
:))
Tudo concorda, Concordo.
:))
Que maneira mais bonita de lembrar sem dizer... Só tu! BJ
bonito, me gusto mucho, y estoy de acuerdo con el
saluditos
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